Buenas Gauchada!
Hoje estou dando mais voltas do que pé de
vento, quando o Curupira assopra a terra colorada, no repecho da lomba grande e
rodando mais que guaipeca quando, de madrugadita, fica enrodilhando para se
deitar, no calorzito do borraio, dum brazedo de fogo de chão.
Depois de queimar um tronco, quase
inteiro, de angico e de esvaziar duas cambonas, numa mateada mais comprida que
baba de vaca tambeira com tristeza, continuo ensimesmado, porque ainda não
consegui pialar no pastiçal das idéias, a tentiada certa para encarreirar o que
quero...e preciso dizer...
Acontece que, nas coxilhas desta charla
galponeira, há dias, ando parando
rodeio com uns pensamentos e campereando umas palavras. Da tropilha, já apartei
algumas da mesma raça: teanino, taura e torena. Empotrerei outras, do mesmo
pêlo: gaudério, guapo e guasca e ainda, emanguerei outras, de mesma marca:
vaqueano, veiaco, véio...
Entonces, quem sabe agora, depois das esporas
nas paletas e de tanto mangaço no lombo, a doma me possibilite dizer, num
palavreado mais manso, o que estou, a lo largo, tentando embuçalar e cabrestear
nas sesmarias da benquerença.
Bueno, Cuera Véio, de todas as palavras
que amanunciei, uma como tu, crioula e de pelo duro, me apareceu meio de
vereda, num trotezito picado, de revesgueio: Parceiro.
Por isso, foi ela que arrocinei e,
cinchando na soga das reminiscências, foi ela que, para te nombrar, palanquiei
no potreiro deste escrito.
Parceiro, porque tu de mim cuidaste,
primeiro quando descobri o caminho do galpão, carrapateado nas tuas bombachas; ensiguidita,
engarupado contigo nas campereadas e rondas nas coxilhas da invernada, depois,
por muitos e muitos anos, ajoujados, batendo estribos pelos corredores, atalhos
e bibocas desta pampa chirua e tu, nunca afrouxaste o garrão e até te alegrava
e aguentava o repuxo nas aventuras e entreveiros, em quantia, que acolherados
vivemos.
Parceiro, porque, por detrás daquela barba
espinhenta, que me arranhava a cara, sempre tinha um moleque encapetado, pronto
para se entreverar nas farras de cria nova no alpendre do rancho, nas folganças
de piazito, nos fins de semana, na taipa do açude e nos tendéus de frangote, lá
na cancha do bolicho, nos costados da barra da sanga funda.
Parceiro, porque, sempre que tu soltava a
voz de aboio de tropa, grossa como casca de porongo, atilhava nela um timbre de
guri, só para fazer uma parelha comigo – que rompia na imaginária porteira da
estância, com as melenas rebolcadas pelo vento modorrento, nos fins das tardes
veranengas e cantando, enforquilhado no lombo de um redomão de taquara, abria a
goela – “...eu tenho um cavalo zaino,
vermelho, cor de pinhão. Fui na casa da morena, prá tomá um chimarrão...”
Parceiro, porque, mesmo com aquelas mãos,
mais pesadas do que marreta de pedreiro, mais grandes do que as tampas das
panelas dum quartel de brigadianos e com os dedos mais grossos do que mandioca
de dois anos, fazia um mimo mui suave, carinhoso e tão apinhado de adulação,
que por causa de um trupicão dado numa pedra moura, numa aporreada partida de
futebol com bola de meia, a berraceira, eu largava de mão, uma vez que a dor se
mandava a la cria, na horinha.
Parceiro, porque, enraizado nas grotas
daquele peito, mais largo que as ancas de um touro caracu, se aboletava um
coração rancheiro, mais mole que polenta de gringo e mais doce do que mel de
lichiguana, onde eu me sentia aquerenciado de verdade. Nas oladas, em que a
fivela ficava arreganhada, por causa da pança lotada de angu e a guaiaca
abarrotada dos pilas, isso valia muito menos que uma quarta de farinha, mas,
quando a tormenta se armava para os lados dos castelhanos e a coisa ficava mais
preta do que os olhos da gateada, era ali que eu me emponchava e me aquentava,
num calor que nunca mais encontrei em qualquer outro rincão.
Parceiro, porque foste tu que maneaste
esse sentimento xucro, que hoje escaramuça no potreiro do meu peito.
Parceiro, foi por tudo isso que eu fiz da
tua estampa o meu norte.
Mas oigatê, Véio Taita!!
Fonte!
Chasque Charla de Peão da semana passada - especial para todos os pais do Rio Grande e de toda esta terra em redor que chamamos de mundo, por Juarez Cesar Fontana de
Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS),
publicado no Jornal Regional do Comércio. Contatos: juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br
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