domingo, 9 de agosto de 2015

Recuerdos do Véio Taita



Buenas Gauchada!
Hoje estou dando mais voltas do que pé de vento, quando o Curupira assopra a terra colorada, no repecho da lomba grande e rodando mais que guaipeca quando, de madrugadita, fica enrodilhando para se deitar, no calorzito do borraio, dum brazedo de fogo de chão.
Depois de queimar um tronco, quase inteiro, de angico e de esvaziar duas cambonas, numa mateada mais comprida que baba de vaca tambeira com tristeza, continuo ensimesmado, porque ainda não consegui pialar no pastiçal das idéias, a tentiada certa para encarreirar o que quero...e preciso dizer...
Acontece que, nas coxilhas desta charla galponeira, há dias, ando parando rodeio com uns pensamentos e campereando umas palavras. Da tropilha, já apartei algumas da mesma raça: teanino, taura e torena. Empotrerei outras, do mesmo pêlo: gaudério, guapo e guasca e ainda, emanguerei outras, de mesma marca: vaqueano, veiaco, véio...
Entonces, quem sabe agora, depois das esporas nas paletas e de tanto mangaço no lombo, a doma me possibilite dizer, num palavreado mais manso, o que estou, a lo largo, tentando embuçalar e cabrestear nas sesmarias da benquerença.
Bueno, Cuera Véio, de todas as palavras que amanunciei, uma como tu, crioula e de pelo duro, me apareceu meio de vereda, num trotezito picado, de revesgueio: Parceiro.
Por isso, foi ela que arrocinei e, cinchando na soga das reminiscências, foi ela que, para te nombrar, palanquiei no potreiro deste escrito.
Parceiro, porque tu de mim cuidaste, primeiro quando descobri o caminho do galpão, carrapateado nas tuas bombachas; ensiguidita, engarupado contigo nas campereadas e rondas nas coxilhas da invernada, depois, por muitos e muitos anos, ajoujados, batendo estribos pelos corredores, atalhos e bibocas desta pampa chirua e tu, nunca afrouxaste o garrão e até te alegrava e aguentava o repuxo nas aventuras e entreveiros, em quantia, que acolherados vivemos.
Parceiro, porque, por detrás daquela barba espinhenta, que me arranhava a cara, sempre tinha um moleque encapetado, pronto para se entreverar nas farras de cria nova no alpendre do rancho, nas folganças de piazito, nos fins de semana, na taipa do açude e nos tendéus de frangote, lá na cancha do bolicho, nos costados da barra da sanga funda.
Parceiro, porque, sempre que tu soltava a voz de aboio de tropa, grossa como casca de porongo, atilhava nela um timbre de guri, só para fazer uma parelha comigo – que rompia na imaginária porteira da estância, com as melenas rebolcadas pelo vento modorrento, nos fins das tardes veranengas e cantando, enforquilhado no lombo de um redomão de taquara, abria a goela – “...eu tenho um cavalo zaino, vermelho, cor de pinhão. Fui na casa da morena, prá tomá um chimarrão...”
Parceiro, porque, mesmo com aquelas mãos, mais pesadas do que marreta de pedreiro, mais grandes do que as tampas das panelas dum quartel de brigadianos e com os dedos mais grossos do que mandioca de dois anos, fazia um mimo mui suave, carinhoso e tão apinhado de adulação, que por causa de um trupicão dado numa pedra moura, numa aporreada partida de futebol com bola de meia, a berraceira, eu largava de mão, uma vez que a dor se mandava a la cria, na horinha.
Parceiro, porque, enraizado nas grotas daquele peito, mais largo que as ancas de um touro caracu, se aboletava um coração rancheiro, mais mole que polenta de gringo e mais doce do que mel de lichiguana, onde eu me sentia aquerenciado de verdade. Nas oladas, em que a fivela ficava arreganhada, por causa da pança lotada de angu e a guaiaca abarrotada dos pilas, isso valia muito menos que uma quarta de farinha, mas, quando a tormenta se armava para os lados dos castelhanos e a coisa ficava mais preta do que os olhos da gateada, era ali que eu me emponchava e me aquentava, num calor que nunca mais encontrei em qualquer outro rincão.
Parceiro, porque foste tu que maneaste esse sentimento xucro, que hoje escaramuça no potreiro do meu peito.
Parceiro, foi por tudo isso que eu fiz da tua estampa o meu norte.
Mas oigatê, Véio Taita!!

Fonte! Chasque Charla de Peão da semana passada - especial para todos os pais do Rio Grande e de toda esta terra em redor que chamamos de mundo, por Juarez Cesar Fontana de Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS), publicado no Jornal Regional do Comércio. Contatos: juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br

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