"Tchê,
teu CTG tem biblioteca? E departamento cultural? Museu? Palestras sobre
folclore e tradicionalismo? Mas e baile, quantos tem por ano? E ensaio?
E almoços?"
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Foto desconhecida |
Buenas!
Essa semana me deparei lendo algumas colocações do Sr. João Carlos
Paixão Côrtes, da década de 80, e percebi que realmente as coisas mudam.
Em velocidade lenta quando se trata de "mudança cultural", mas mudam. E
nesse caso, infelizmente, para pior. Ao buscar entender o porquê foram
criados os CTGs, uma entrevista me chamou muito atenção, onde o repórter
questiona Paixão Côrtes sobre a funcionalidade dos CTGs, e se estão
cumprindo as suas funções, baseados nos princípios em que foram criados.
Da uma olhada no que o nosso pesquisador mais taura do Rio Grande
respondeu:
“Acredito
que um Centro de Tradições tem diversas finalidades e cada um deles dá
as dimensões dentro do nível cultural de seus dirigentes. Então, numa
hora ele está muito bem, noutra hora não está tão atuante, como qualquer
sociedade.” (CÔRTES, PAIXÃO, 1981)
Até
aqui, nada demais. Pode-se concordar tranquilamente, que muito vai do
patrão de cada entidade, e da forma que o mesmo gosta de puxar. Uns são
mais voltados aos grupos de dança, outros aos jogos campeiros, outros
valorizam mais ou menos o piquete de laçadores do seu CTG, e por aí vai.
Mas seguindo a prosa:
Foto: divulgação
“O
que penso é que os Centro de Tradições, de um modo geral, nos dias
atuais, se tornaram simplesmente, sociedades recreativas com finalidade
de música, dança e rodeios. Um número limitado está cumprindo os
objetivos para os quais nós nos propusemos quando criamos o 35.”
(CÔRTES, PAIXÃO, 1981)
Aqui já tomamos um bombardeio de ideias, mas ele ainda arremata:
“Raros
são os Centros de Tradições que tem biblioteca, museu, proporcionam
programas culturais ou cursos sobre folclore e tradição. No entanto,
“fandango” ocorrem no mínimo um mensal, afora às reuniões sociais
semanais... Em muitos CTGs nossas tradições estão concentradas quase
exclusivamente na “Semana Farroupilha” e em “Rodeios”. O resto do ano é
farrancho, carne, mate e... Constroem-se enormes sedes sociais sem
vínculo com a arquitetura da terra ou não inspirada em motivo gauchesco.
O importante é que a churrasqueia seja enorme e a copa tenha capacidade
para grande estocagem de bebidas.” (CÔRTES, PAIXÃO, 1981)
Foto: divulgação
Que
tal? Leve a declaração hein chê?! E o pior, ANOS 80!! Dá para trazermos
para os dias atuais, não da? E em escala muito maior. Cada vez menos
temos CTGs preocupados em ter um cultural forte e atuante dentro da
entidade, proporcionando conhecimento aos que dançam e participam de
suas atividades. Alguns podem até pensar “ah mas na Ciranda de Prendas e
no Entrevero de Peões sempre tem bastante gente e é bem concorrido...”,
tranquilo, mas isso representa quantos % do número total de CTGs do
estado? Menos mal que temos alguns ainda preocupados. Cada vez mais os
nossos representantes que muito estudam para sagrar-se Prendas e Peões
do estado, precisam lutar para voltar a ser uma pratica comum dentro dos
CTGs, e não uma raridade. Fica mais uma missão para a nova Prenda
Adulta do Rio Grande do Sul, Roberta Jacinto, de Bagé, a esquerda na
foto.
Foto: Blog Rogerio Bastos
Quem
sabe está na hora de a preocupação não ser apenas os grupos de danças, e
como ficarão colocados nos rodeios. Quem sabe não deva-se pensar só em
ter um grupo adulto com o melhor instrutor, o melhor vocal, a melhor
pilcha... Quem sabe devemos voltar a ensinar um pouco as crianças das
mirins dos CTGs, para que pelo menos no futuro, não reflitam os adultos
que temos hoje, pouco se importando com a perpetuação da tradição, e
muito se importando com o EGO de estar ganhando dos seus adversários (inimigos) dos palcos.
Foto: Facebook Prendas que Inspiram
Fica meu desabafo, e para encerrar, deixo para o autor concluir: “Nós
temos que reconhecer que antes da fundação dos Centros de Tradição
quase nada existia. Foi uma tremenda abertura para revitalizar a cultura
popular. No fundo, nem todos estão preocupados com isso. O problema
começa com a deficiência da nossa cultura nacional.” (CÔRTES, PAIXÃO,
1981).
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tu concorda, ou quem sabe discorda também, mas gostou de dar uma lida
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