Essa gente honrada e simples que
moram no campo e produz o que precisamos para viver, levam uma vida dura, sem
final de semana e feriados, porque se guiam pelo tempo, quando esse está bom sendo
momento de plantio ou da colheita, é a hora das famílias se arremangarem e
enfrentarem a realidade que não espera pouco importando se é feriado nacional,
a mão do homem precisa ir para a terra.
De sol a sol é a lida do
agricultor, depois é reunião no galpão, na cozinha, na sala de janta em volta
da mesa para a prosa e desfrute do pão, do vinho, do salame, da copa, que ali
mesmo se produziu, até que a bóia maior chegue numa panela de ferro alimentando
os corpos que cedo vão á cama, para mais cedo levantarem e depois do café,
voltar para a lavoura.
O citadino adora o campo, mas para
passeio, para finais de semana, pelo glamour do status das fazendas e do bem
que a natureza provoca no ser. Mas infelizmente existe gente na cidade que ignoram
os agricultores, os inferiorizam, ridicularizando seu jeito rude de viver, de
falar, esquecendo-se que sem agricultura não sustentariam a carcaça rebocada de
ruge, batom, plásticas em músculos de laboratório.
Outro dia numa reunião festiva aqui
na capital, um sujeito se julgando maioral, expressando voluntariamente sua
condição de empresário das finanças, com chique escritório na Carlos Gomes e
New York, falante, solucionador dos problemas do mundo pelo lado do capital,
caiu na asneira de me dizer que o gaúcho, o pessoal do campo eram uns
vagabundos.
Respeitosamente, mas com vontade de
dar um planchasso de três listas no almofadinha para rebater sua injusta
afirmativa, quando ele fechou a matraca que mais de meia hora batia sem parar
vomitando soluções pelo capital a vida humana, perguntei ao sabichão qual eram
as três coisas que sem ter o homem não vive 30 dias?
Ele vagou no pensamento, resmungou
bastante e vendo que não teria a resposta tentou mudar de assunto, quando
insisti na resposta e o cara num sorriso amarelado disse que não sabia,
prontamente lhe desferi: “A humanidade
meu caro, pode viver com tudo que tu acha como essencial: chips, computador,
televisão, satélite, automóvel, avião, petróleo, luz elétrica, celular,
dinheiro, produtos bancários que tu defendes e um mundo de porcarias que a
modernidade nos oferece, mas não vive sem - água, proteína e grãos. Três
maravilhas, uma que felizmente só Deus sabe a fórmula para fabricar, a água e as
outras duas a tecnologia genética humana pode mexer e ironicamente essas,
proteína e grãos, são produzidas pelos os que tu julgas vagabundos.
Vou morrer dizendo que o AGRICULTOR faz parte da cadeia
produtiva fundamental, contra o que vocês estrategicamente gostam de chamar de
produção primária, para saquearem no joguete das bolsas de valores via os
verdadeiros vagabundos que exploram os que produzem, ganhando fortunas sem
nunca terem semeado, acumulando riqueza no suor e no sangue do agricultor que
sempre paga a conta.
O dia que os agricultores resolverem produzir só para suas
famílias, eu quero ver o que vai valer o capital, quero ver quantos dias tu vai
fica de pé com os bolsos cheio de dinheiro sem ter o que comprar?
É claro que isso não vai precisar acontecer, porque existe outra
coisa que certamente tu não acreditas, na justiça divina. Que Deus abençoe os
que verdadeiramente trabalham como os agricultores, que anualmente se superam e
o preço vil de suas safras ofertadas pela bolsa dos que não trabalham, vão lhe
empobrecendo e escravizando”.
Para pensar: O dinheiro apareceu para facilitar o comércio e não escravizar
os que produzem!
Fonte! Coluna Regionalismo por Dorotéo Fagundes de Abreu, do dia 29 de julho de 2013.