sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Entidades tradicionalistas apresentam dificuldades devido a suspensão de eventos pela pandemia

No mesmo período do ano passado, eles estariam montando seus piquetes no Acampamento Farroupilha

"CTG’s como o Amaranto Pereira precisaram suspender todas as suas atividades presenciais devido a pandemia" (Foto: Divulgação) 

O mês de setembro se aproxima e com ele chegaria os festejos farroupilha. Foi escrito “chegaria” por um motivo: a pandemia do coronavírus fez com que atividades como bailes, penhas e o acampamento farroupilha fossem suspensos. Pensando nisso, a reportagem do Jornal A Semana conversou com representantes de entidades tradicionalistas para saber o impacto dos cancelamentos nos trabalhos das entidades.

CTG Sentinelas do Pago

O CTG Sentinelas do Pago, no Bairro Maria Regina, é administrado pelo patrão Alexsandro Santana, 44 anos. Ele conta que assumiu a patronagem em dezembro do ano passado, mas que já frequenta o espaço há 20 anos. Segundo o alvoradense, o impacto da pandemia nas economias do CTG foi muito forte, pois todas as maneiras de arrecadar recursos foram suspensas.

Eventos como bailes, cursos de fandango e os jantares que eram feitas todas as sextas-feiras tiveram de ser cancelados. “Para conseguir ter algum tipo de arrecadação começamos a trabalhar com pague e leve com almoços e jantas. Com o apoio da Subcordenadoria de Alvorada também entramos num circuito de jantas onde todos os galpões participaram”, salienta Santana.

CTG Chilena de Prata

Já o CTG Chilena de Prata fica no Bairro Aparecida e tem que sua patroa Reovane Ribeiro, 54 anos, que está em seu segundo mandato. Segundo a alvoradense, todas as atividades promovidas pela entidade foram suspensas, como ensinos, palestras, curso de pré-vestibular, aulas particulares e doações de alimentos para as famílias carentes do Bairro Aparecida e arredores.

Contudo, ela afirma que o CTG não conta com renda e que tudo é destinado as famílias carentes. “CTG não é um banco e sim uma sociedade sem fins lucrativos e nós do Chilena não temos sócios e nem cobramos nenhum tipo de valor dos participantes, mas sim ajudamos eles com doações recebidas. Temos um projeto social com as invernadas e acreditamos que um jovem no galpão e um jovem a menos no chão”, desabafa Reovane.

CTG Amaranto Pereira

Por último foi conversado com Adair Rocha, patrão do CTG Amaranto Pereira, no Jardim Algarve, desde 2017. O alvoradense relata que o impacto é enorme, afinal a entidade não realiza eventos desde março. Com o espaço fechado, além das finanças, as atividades artísticas e culturais também estão paralisadas e o projeto do pague e leve é a única alternativa para tentar manter as contas em dia.

Contudo, o patrão concorda com a suspensão das atividades. “Devido a pandemia o MTG cancelou os festejos farroupilha em todo o estado, o qual nós do CTG apoiamos esta iniciativa, pois, neste momento o que mais importa é combater este vírus, e nos festejos iríamos ter uma grande aglomeração de pessoas, como é tradicional em todas as edições até agora”, finaliza Rocha. 

Fonte! Chasque publicado na contracapa do Jornal A Semana de Alvorada, edição do dia 28 de agosto de 2020. Também pode ser acessado nos potreiros da Internet, abrindo as porteiras clicando em http://www.jornalasemana.net/noticias/cidade/entidades_tradicionalistas_apresentam_dificuldades_devido_a_suspensao_de_eventos_pela_pandemia/8699

 

Coluna Tradição e Cultura do Jornal A Semana de Alvorada (RS) - 28.08.20

Congresso Tradicionalista Gaúcho será em fevereiro

O 69º Congresso Tradicionalista Gaúcho já tem data definida. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) do Rio Grande do Sul, na quarta-feira, 26 de agosto, publicou seu edital de Convocação. O evento, que tem periodicidade anual, acontecerá nos dias 26 a 28 de fevereiro na Ulbra – Universidade Luterana do Brasil, em Canoas. A resolução decorre de autorização especial do Conselho Diretor da entidade, levando em conta os reflexos das exigências sanitárias de distanciamento social causados pela pandemia da covid-19. Tradicionalmente, o Congresso acontece no mês de janeiro e durante o Congresso são discutidos temas de relevância para as entidades e proposições ou alterações de normas. Também é realizada a eleição da diretoria e conselho para o ano de 2021. Fonte! Sítio Facebook do MTG. Créditos da arte! Sítio Facebook do MTG.

MTG promove festival de gineteadas

O 1º Festival Internacional de Gineteadas Virtuais irá movimentar as redes sociais durante os Festejos Farroupilhas. Como parte da programação do Galpão Universo Virtual, promovido pelo MTG em substituição ao Acampamento Farroupilha, ginetes de todo estado poderão mostrar suas habilidades em uma plateia virtual de milhares de gaúchos. O vice-presidente Campeiro do MTG, Adriano Pacheco, lembra que, anualmente, o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho realiza um rodeio durante o acampamento. A competição virtual, portanto, busca valorizar o segmento.

         “Além disso, estaremos reconhecendo a importância de uma tradição que às vezes fica esquecida, devido ao crescimento muito grande das provas de laço”, observa Adriano.

          Os ginetes devem enviar os vídeos com as apresentações até o dia 13 de setembro, para o WhatsApp (51) 99926-2104, com nomes do competidor e do aporreado, tropilha, telefone celular, cidade e entidade à qual pertence o ginete.

O uso de máscaras é obrigatório nas gineteadas, e não pode haver aglomerações durante as gravações. As inscrições são limitadas a 30 vagas, preenchidas por ordem cronológica de envio. Também há uma categoria mirim, não competitiva, para crianças de até 12 anos, exclusiva para gineteadas dentro de casa, em cavalos de brinquedo.

Os vídeos serão apresentados em uma transmissão ao vivo, no dia 18 de setembro, às 20h, com a presença da comissão julgadora, pajadas, narradores e atrações musicais. Os três primeiros lugares receberão troféus e inscrições em importantes rodeios que acontecerão no estado em 2021 e 2022 (1º lugar, Vacaria, 2º lugar Campo Bom e 3º lugar Santana do Livramento). Antes de gravar a tua gineteada e fazer a tua inscrição, confira o regulamento em nosso site:  https://www.mtg.org.br/vice-presidencia-campeira/mtg-realiza-1o-festival-internacional-de-gineteadas-virtuais/. Fonte! Chasque remetido por Sandra Veroneze, da Assessoria de Imprensa do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Semana do Jovem Tradicionalista

Vem aí a Semana do Jovem Tradicionalista, com atividades e ações por todo o Estado para celebrar a importância da participação do Jovem no MTG, onde os Departamentos Jovens, Entidades Tradicionalistas, Regiões Tradicionalistas e Inter-Regiões estão convidados a promover atividades virtuais, entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro.

Durante a Semana do Jovem Tradicionalista, o Departamento Jovem Central irá realizar lives e atividades interativas nas redes sociais. Para saber mais informações, acesse https://cutt.ly/3d8FJ6o.

Valdemar Engroff

domingo, 23 de agosto de 2020

Passo Fundo cancela festejos da Semana Farroupilha

Em uma decisão conjunta entre a prefeitura de Passo Fundo e a Coordenadoria da 7ª Região Tradicionalista do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), ficou definido que os desfiles da Semana Farroupilha deste ano não serão realizados por causa da pandemia. A situação estava sendo discutido há algum tempo com os tradicionalistas, já que havia uma possibilidade da realização dos desfiles com a definição de um protocolo específico para o evento.

A 7ª Região Tradicionalista está organizando com as entidades a possibilidade da realização de algumas ações específicas para movimentar o meio tradicionalista, ficando sob a responsabilidade de cada Centro de Tradição Gaúcha de Passo Fundo oferecer à comunidade pratos típicos gaúchos no sistema pague e leve. "Tomamos uma decisão tendo como consenso a preservação de todos os cuidados para que a pandemia não se agrave. Assim, os cafés de chaleira e as rondas em cada uma das nossas entidades também estão cancelados. É um período difícil para todos, mas o que queremos é que a comunidade valorize o esforço das entidades que estarão oferecendo seus pratos típicos. Que todos ajudem e que as entidades consigam atravessar essa fase difícil", ressalta o secretário de Cultura Henrique Fonseca.

A coordenadora da região, Valderleia Nervo, afirma que um evento em outro modelo deve acontecer. "Mesmo sem a realização de eventos presenciais, não podemos deixar de realizar ações para comemorar o mês de setembro. As entidades já estão planejando almoços e jantares no sistema drive thru, por exemplo", destacou.

Fonte! Chasque publicado no Caderno "Jornal Cidades", encartado na edição do dia 17 de agosto de 2020 do Jornal do Comércio de Porto Alegre (RS).

Pedro Ortaça mantém viva a música missioneira

Aos 78 anos, Pedro Ortaça é único tronco missioneiro ainda vivo e continua legado junto à família /

BRENDA QUEVEDO/DIVULGAÇÃO/JC

 
Entre as décadas de 1970 e 1980, São Luiz Gonzaga vivia uma efervescência cultural. A cidade retomava suas origens na história das Reduções Jesuíticas através da arte, da música e da poesia. Essa retomada não veio à toa. A intensa crise econômica mundial afetava a região e a autoestima dos moradores. Foi nesse cenário que os artistas construíram uma identidade que até hoje influencia a região.
 
O passado escolhido para ser retomado foi a segunda fase das Reduções Jesuítas, um movimento feito pelos padres mandados pela Companhia de Jesus para catequizar os índios. No século XVII, os jesuítas conseguiram a formação das reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio.
 
Mas para além da região brasileira, os Sete Povos das Missões pertenciam a um sistema maior, conhecido como República Guarani, que também compreendia locais na Argentina e no Paraguai. A organização de uma república sem classes, a luta dos índios em defesa da terra e os valores cristãos foram trazidos de 300 anos atrás para se construir uma identidade própria da região.
 
A reportagem cultural especial do Jornal do Comércio investigou a construção dessa identidade que tem como principal marco a música missioneira na imagem dos Quatro Troncos: Noel Guarany, Jayme Caetano Braun - conhecido como El Payador -, Cenair Maicá e Pedro Ortaça.
 
A denominação veio do disco Troncos Missioneiros, lançado em 1988, no auge da retomada cultural que os missioneiros viviam. O álbum, junto com a criação da Mostra de Arte Missioneira, impulsionou um movimento cultural que formou uma coletividade de artistas e uma educação musical que até hoje repercute na região.
 
Dos quatro troncos, hoje apenas Pedro Ortaça vive e continua tocando o estilo missioneiro, fazendo shows com os três filhos Marianita, Gabriel e Alberto. Com 78 anos, o artista busca a valorização cultural dos músicos da região. Ortaça e o deputado Paparico Bacchi (PL) protocolaram no final de julho o Projeto de Lei "Pedro Ortaça", com o objetivo de tornar obrigatória a contratação de músicos e artistas na abertura de eventos musicais patrocinados ou financiados com recursos públicos.
 
A mistura de ritmos como milonga e chamamé, a forma de poesia improvisada chamada payada, letras que misturam português, espanhol e guarani e causos sobre as vivências nos países vizinhos são alguns elementos que constituem a musicalidade missioneira. Nas Missões, algumas famílias são constituídas em sua maioria por músicos, é comum reunir os amigos e familiares para tocar em datas festivas e as crianças são incentivadas na música desde cedo.
 
A cultura musical em São Luiz Gonzaga também pode ser vista pela quantidade de músicos que nasceram lá, como Noel, Pedro e Jayme e outros artistas conhecidos como Luiz Carlos Borges e Jorge Guedes. Com toda a popularidade e história, em 2012, o município foi instituído como Capital Estadual da Música Missioneira pela Assembleia Legislativa. A fama pegou e há quem diga que as crianças em São Luiz Gonzaga não nascem chorando, mas sim cantando."

Mataram meus infinitos/E me expulsaram dos campos/Da terra nasceram gritos/Dos gritos brotaram cantos! Trecho da música de Cenair Maicá no LP Troncos Missioneiros, da USA Discos (1988)

Uma identidade construída

São Luiz Gonzaga foi instituída Capital Estadual da Música Missioneira, título que expõe com orgulho / LARISSA BURCHARD/DIVULGAÇÃO/JC
 
A construção de uma identidade e de um estilo missioneiro veio em um contexto de fragilidade econômica não apenas nas Missões, mas mundialmente. A crise do petróleo que ocorreu entre o fim dos anos 1970 até meados da década de 1980 afetou a economia de agricultura e a autoestima da comunidade que tinha esperança de crescimento.
 
Além disso, como conta a doutora em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Roselene Pommer, a questão política em São Luiz Gonzaga também era uma particularidade. "No final dos anos 1970, São Luiz foi uma das únicas a eleger um prefeito do Movimento Democrático Brasileiro indo no inverso de prefeitos da Arena na época do bipartidarismo. E foi esse prefeito que liderou as comemorações do centenário de emancipação da cidade, é essa festa que vai resultar a ideia das feiras culturais", explica. A participação do poder público na comemoração da emancipação da cidade, em 1980, foi um modo de motivar os são-luizenses por meio de diversos eventos sobre a história reducional.
 
Antes disso, um jovem músico voltava à cidade com uma bagagem cultural depois de viver sete anos viajando e tocando na Argentina, no Uruguai e no Paraguai. Noel Fabrício da Silva, com o nome artístico Noel Guarany, já movimentava os músicos da cidade para o surgimento de um estilo missioneiro de tocar, que falasse sobre a realidade e as injustiças da região. O cantor não gostava dos festivais e concursos que ocorriam na época e se reuniu com outros artistas e intelectuais para a criação de uma feira que não buscasse a competição, mas sim a valorização das Missões.
 
Os três fatores entraram em uma panela de pressão que, ao explodir, sacudiu a cultura da região. O modo de cantar de Noel e a oposição à ditadura militar da cidade veio ao encontro de uma necessidade de retomar os valores da história reducional da região, trazendo elementos como a luta dos índios guaranis e a figura do Sepé Tiaraju.
 
Em 1981, foi realizada a Mostra de Arte Missioneira, um evento que reuniu artesãos, músicos, poetas e pesquisadores das Missões, integrando a Argentina e o Paraguai. De acordo com Roselene, esses fatores contribuíram para que a comunidade negociasse com o passado reducional e passasse a entendê-lo como parte da sua identidade. "Esse passado reducional era tido como um passado das ruínas que eram consideradas um monte de pedra e para muitos não tinha nenhuma significação. A partir do movimento das mostras que este passado vai ser ressignificado", esclarece Pommer.
 
A identidade construída a partir da negociação com o passado reducional pode ser observada em diversos aspectos físicos ou subjetivos. Segundo o professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), campus São Borja, Muriel Pinto, a identidade missioneira é observada na herança cultural, religiosa, lendária e mística, não sendo apenas histórica, mas também simbólica por trazer vivências. Em sua pesquisa sobre a identidade Missioneira em São Borja, o professor encontrou na religiosidade e na música os traços mais marcantes da região. "Em São Borja nós temos as imagens sacras da época e também procissões que são feitas há mais de 100 anos. E a música missioneira se reproduz também no chamamé porque essa musicalidade vem do período missioneiro. O chamamé era uma mistura da musicalidade nativa com a espanhola, do flamenco, vem do folclore correntino", aponta Pinto.

Uma música em homenagem à terra

Jayme C. Braun, João Máximo, Noel Guarany, Pedro Ortaça, Dedê Cunha e Cenair Maicá no festival Coxilha Nativista / /ARQUIVO JOÃO SAMPAIO/DIVULGAÇÃO/JC

Os músicos da região foram absorvendo essa herança, formando um estilo de cantar e tocar missioneiro. A principal diferença da música está nas letras que falam sobre a história das reduções, a valorização da terra e o Rio Uruguai, colocando os índios guaranis como protagonistas. Como explica o mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Iuri Daniel Barbosa, a música missioneira se conecta com os ideais da República Guarani. "Eles passaram muito mais na letra e na mensagem o que eles entendiam sobre esse passado. Ela se conecta com os ideais que é de uma República Guarani e pensando sobre como eles viviam, como a região era diferente, na imagem do Sepé Tiaraju, do Andresito, desses heróis", explica.

O estilo da região é representado principalmente na figura de Noel Guarany, considerado seu pioneiro. O músico João Sampaio, 62 anos, acompanhou o início da carreira de Noel, a quem considera pai, irmão e amigo. "Para mim, ele foi um profeta das Missões, o precursor de uma cultura", comenta. Em homenagem ao amigo, Sampaio tem reunido fotografias, reportagens e músicas para escrever a biografia de Noel. "Eu conheço várias histórias dele, acredito que ele merece ser reconhecido pelo seu pioneirismo na região", aponta João.

Guarany conheceu Cenair Maicá em 1969 e logo começaram a produzir e viajar juntos. Noel gravou o primeiro disco em 1971. Segundo Sampaio, a diferença daquilo que Guarany tocava se dava na temática das letras. "O seu primeiro LP 'Legendas Missioneiras' estabelece de maneira definitiva a digitação diferenciada da sua guitarra crioula e missioneira bem como as temáticas sociais, antropológicas, sociológicas, históricas e folclóricas", descreve o músico.

Outro artista que viveu a época é Jorge Guedes, 56 anos, que aprendeu a tocar o estilo missioneiro com Noel Guarany. Na época, Jorge foi convidado por Noel para gravar um disco e esse foi um dos impulsos para a sua carreira. "Ele me convidou para seguir na música missioneira porque ainda eram poucos. Disse que viu em mim um potencial para seguir na música e queria me apresentar como cantor missioneiro", lembra Guedes. A intuição que Noel teve deu certo e até hoje Jorge toca em shows com a família.

No mesmo movimento, Pedro Ortaça conta que na medida que foi crescendo na música conheceu sobre a República Guarani e o que o período representou para a região. Aos poucos ele ingressou na música missioneira junto com Noel, Cenair e Jayme. "Eu canto e procuro cantar já denunciando muitas injustiças como as que aconteceram com os índios guaranis e como agora acontece com os negros desta terra. Vemos que a discriminação continua", diz Pedro. Para ele, o estilo de cantar missioneiro é também sobre cantar a liberdade e denunciar as injustiças. "Nós não cantamos só flores, mas os espinhos também", ressalta Ortaça.

Um disco, muitas histórias

LP Troncos Missioneiros marcou a música da região reunindo Pedro Ortaça, Jayme Caetano Braun, Noel Guarany e Cenair Maicá / LARISSA BURCHARD/DIVULGAÇÃO/JC
 
"São quatro cernos de angico/ Falquejados na minguante." Assim começa a poesia Os quatro missioneiros, de Jayme Caetano Braun, escolhida para abertura do disco Troncos Missioneiros. A gravação ocorreu em 1988 pela gravadora USA Discos do produtor musical Theodoro Alex Honenberger. "Quando nós chegamos no estúdio o Jayme disse que fez uma poesia de abertura do disco. Eu nem queria ouvir porque eu já sabia que seria bom. Me arrepio até agora de lembrar", conta o produtor.
 
Quando teve a ideia do disco, Theodoro sabia que a música missioneira já tivera seu auge e os músicos que a criaram já estavam em fim de carreira. Noel estava com a saúde debilitada devido à uma doença degenerativa e Cenair havia realizado uma cirurgia que o deixara fraco. Os quatro músicos também já não viviam na região, exceto por Pedro Ortaça, o que tornava mais difícil o encontro. Mesmo assim eles aceitaram o convite.
 
A reunião dos quatro tornou o disco um clássico na região que até hoje os moradores se referem aos quatro troncos missioneiros como os grandes precursores da música. As 11 faixas se constituíram como um marco do estilo de tocar missioneiro e das letras que falam sobre a vida do gaúcho das Missões. Entre as músicas mais conhecidas estão Timbre de Galo, de Pedro Ortaça, na qual a letra também foi escrita pelo poeta são-borjense Apparício Silva Rillo, e Cepa Missioneira, de Cenair.
 
Foi na gravação da poesia Bochincho, de Jayme Caetano Braun, que Alex conta como fizeram a ambientação sonora. "Lembro que o Jayme queria que em um determinado trecho da poesia tivesse um barulho quando corta a gaita. Resolvi que na hora eu ia derrubar umas cadeiras e chutar uns bancos. Na hora, ele foi declarar e quando cortou a gaita eu chuto tudo e até machuquei meus pés. Sai rengueando no estúdio", narra o produtor.

Por onde anda a música missioneira hoje?

Mais de 30 anos após o lançamento dos Troncos Missioneiros, as músicas ainda repercutem e hoje encontram novos missioneiros, formando uma cultura que passa de geração em geração. Laura Guarany, 38 anos, cantora e filha de Noel, lembra bem das visitas de João Sampaio ao pai e de passar horas com eles ouvindo discos argentinos. Para ela, a música deles a ensinou a valorizar a vida simples no campo e a história reducional. "Quando pequena não entendia muito, mas fui crescendo e reconhecendo a imensidão do trabalho dele", comenta Laura. Hoje a cantora também é professora de técnica vocal e se dedica à música missioneira e ao folclore latino-americano.

Marianita Ortaça seguiu os passos do pai, mas foi além. Inspirada pela identidade missioneira, a psicóloga e empresária criou a grife "Marianita Ortaça" que busca trazer a cultura com a moda. Acompanhando o pai nos shows desde pequena, cresceu no meio e sempre foi incentivada a escrever sobre o que vivia, desenvolvendo o gosto pela cultura. Para ela, a música missioneira é algo que vai continuar, mas é preciso incentivar os jovens: "O maior desafio é mostrar a eles o que essa música representa, para que levem adiante essa riqueza que é a música da nossa terra, inspirada na preciosa história de amor, empatia, lealdade, liberdade e igualdade que os ancestrais Guaranis nos deixaram".

Outro descendente dos quatro troncos que procura preservar a música é Atahaulpa Maicá, 41 anos, músico e sobrinho de Cenair. Atahaulpa tem o nome do último imperador Inca e, assim como Marianita e Laura, a presença dos músicos na família teve grande influência. Ele conta que a família Maicá era integrada por oito irmãos homens que formavam quatro duplas de cantores. "Me lembro, quando era novo, muitas vezes ao invés de brincar com os amigos, estava em casa observando o trabalho do Cenair, que era um trabalho de cidadania", relata o músico. Atahaulpa já gravou dois discos e hoje ensina aos filhos sobre sua origem nas Missões: "Eles já têm outras influências, é interessante conhecer outras culturas, mas acho que tem que conhecer a sua também. Para mim, a pessoa rica é a pessoa que conhece de onde vem".

Não apenas nos descendentes ficou a marca da música. O locutor da rádio São Luiz João Ribeiro, 64 anos, conheceu Noel Guarany ainda pequeno e desenvolveu uma sensibilidade poética para observar São Luiz Gonzaga. "Dei asas à imaginação, fazendo rimas de fatos e de devaneios criativos com inspiração no cotidiano missioneiro", relata. Participante em diversos festivais, Ribeiro procura trazer em suas composições a simplicidade do campo e o emocional do Interior: "Quem adentra nesse mundo e convive vai ter a inspiração e elementos de sobra para fazer música e poesia". Assim, seja em São Luiz Gonzaga ou em outro lugar, a música missioneira ultrapassa fronteiras e é carregada no sentimento de cada morador.

Fonte! Chasque (reportagem) publicado no "Caderno Viver", encartado no Jornal do Comércio de Porto Alegre, edição dos dias 14, 15 e 16 de agosto de 2020, na "reportagem cultural", por Larissa Burchard (de São Borja (RS)). E nos potreiros da internet: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/especiais/reportagem_cultural/2020/08/751378-pedro-ortaca-mantem-viva-a-musica-missioneira.html

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Coluna Tradição e Cultura do Jornal A Semana de Alvorada (RS) - 21.08.20

 Encontro Regional de Patrões

O Coordenador da Primeira Região Tradicionalista, Sr. Edison Fagundes, convoca a todos para o 3º Encontro Regional de Patrões, sendo este o 2º encontro virtual de patrões a ser realizado no dia 26 de agosto às 20hs, via plataforma on-line Google Meet. Pauta: prestação de contas do 1º semestre, Semana Farroupilha e Assuntos Gerais. O linck de acesso será disponibilizado 30 minutos antes do início dos trabalhos, nos grupos das Subcoordenadorias. Informações com o Subcoordenador de Alvorada, Sr. Jair Martins pelo waths (51) 999.994.513.

Semana do Jovem Tradicionalista

O Departamento Jovem Central do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) está lançando a Semana do Jovem Tradicionalista! Serão sete dias de atividades e ações por todo o Estado para celebrar a importância da participação do Jovem no MTG, onde os Departamentos Jovens, Entidades Tradicionalistas, Regiões Tradicionalistas e Inter-Regiões estão convidados a promover atividades virtuais, entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro.

Durante a Semana do Jovem Tradicionalista, o Departamento Jovem Central irá realizar lives e atividades interativas nas redes sociais. Fiquem atentos e não deixem de participar. Para saber mais informações, acesse https://cutt.ly/3d8FJ6o.

Secretaria da Agricultura anuncia liberação de provas campeiras

Após consulta ao Comitê de Análise de Dados do Covid-19, o Secretário Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho, anunciou a liberação de atividades e provas campeiras em municípios com bandeira amarela ou laranja. O aval foi dado pela coordenadora do comitê, Leany Lemos, e comemorado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).

As provas devem seguir restrições dos Decretos Estaduais, as normas da Secretaria Estadual da Saúde e, especialmente, a Nota Informativa 18 COE/SES-RS do Centro Estadual de Vigilância em Saúde de 13 de agosto. A Nota lista 42 recomendações que devem constar nos protocolos das competições esportivas a serem realizadas em território gaúcho, entre elas a proibição de público externo. A autorização final ficará a cargo do município sede da competição. Segundo Covatti Filho, as competições devem apresentar um plano de contingência para prevenção e controle à Covid-19. "É possível retomar a realização das provas campeiras, desde que todos os protocolos de prevenção à saúde sejam rigorosamente cumpridos", destaca Covatti.

O vice-presidente campeiro do MTG, Adriano Pacheco, diz que a liberação contempla na totalidade pedido da entidade. "As provas campeiras vão muito além da cultura e tradição, elas envolvem um setor econômico que está parado desde o início da pandemia e precisa retomar as atividades, ressalta. Pacheco havia encaminhado pedido pela liberação nesta segunda-feira. Na mesma linha, o Vice-Presidente da Administração e Finanças do MTG, César Oliveira, diz que o pedido de continuidade controlada das atividades campeiras é fundamental para a retomada desta atividade econômica que abrange todo o estado. "É preciso fazer girar a engrenagem lentamente de forma muito criteriosa, não deixando-a parada, enferrujando e sofrendo desgaste. Precisamos avançar, porém tomando o máximo de precauções e, conscientemente, cada um, desde o gestor municipal até o laçador, assumir a sua devida responsabilidade", ressalta César Oliveira. Chasque de Sandra Veroneze.

 Valdemar Engroff

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Porto Alegre! Sem acampamento, Semana Farroupilha ganha formato inédito com shows e oficinas on-line

Este ano o evento terá a patrona Sandra Abech no comando dos festejos /Maria Ana Krack/PMPA/JC

O evento tradicionalista mais importante do Estado, a Semana Farroupilha, terá formato virtual inédito em 2020 devido à pandemia do novo coronavírus. O projeto para as comemorações foi apresentado em videoconferência realizada no fim da tarde de segunda-feira (3) com a participação do prefeito Nelson Marchezan Júnior e representantes do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas. Também foi confirmado o cancelamento do Acampamento Farroupilha no Parque Harmonia.

A histórica data do calendário gaúcho, que costuma reunir mais de um milhão de visitantes em pelo menos 350 galpões no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Parque Harmonia), será festejada de 13 a 20 de setembro em formato totalmente on-line. O Galpão Virtual Universo Gaúcho terá programação de shows com grandes nomes da música tradicionalista e oficinas com temas como gastronomia, dança, cutelaria, artes plásticas e artesanato.
 
O vice-presidente administrativo e de finanças do MTG, César Oliveira, destaca a importância de adaptar as comemorações para manter viva a cultura rio-grandense. “Vamos fazer deste limão uma limonada. Vamos projetar Porto Alegre e o nosso estado para todo o país, mostrando a força de nossa tradição, em um evento audacioso. Nem o Nordeste aproveitou as festas juninas para se transformar em um evento totalmente on-line, que é o que nós estamos propondo”, diz Oliveira.
 
O prefeito Nelson Marchezan Júnior garantiu apoio da prefeitura para viabilizar a iniciativa, que classificou como “algo extremamente inovador, com potencial de grande impacto e projeção, que tem tudo a ver com a futura retomada do turismo cultural na cidade”. Marchezan sugeriu uma avaliação das estruturas da Casa do Gaúcho pela equipe técnica da prefeitura, com o objetivo de checar condições mínimas de realização do evento virtual, caso o espaço seja o escolhido para abrigar o Galpão Virtual. Ele também afirmou que a inclusão de pequenos fornecedores que abastecem a economia tradicionalista (como costureiras, produtores de alpargatas, etc) será fundamental para manter o envolvimento de toda a sociedade neste momento de adaptação da cultura gaúcha às restrições da pandemia.

Já o secretário adjunto da Cultura e presidente da Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas, Giovani Tubino, comentou a importância da mudança nas comemorações. “O momento em que vivemos é atípico e precisamos levar em conta os riscos que enfrentamos com aglomerações. Honramos nossas tradições, mas a vida vem em primeiro lugar”, afirma.
 
Também participaram da reunião o vice-presidente da Fundação Cultural Gaúcha do MTG, Maxsoel Bastos; o secretário municipal da Cultura, Luciano Alabarse; o procurador-geral adjunto de Contratos, Albert Abuabara; a coordenadora do Escritório de Eventos, Natália Medeiros, e técnicos da Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Meio Ambiente.

Em 2020, evento terá uma mulher como representante oficial

A Comissão Municipal dos Festejos Farroupilhas definiu por unanimidade Sandra Abech como patrona do evento em 2020. Natural de Porto Alegre, Sandra é professora aposentada e atualmente atua como coordenadora pedagógica. A patrona iniciou as cavalgadas em 1982, atividade que incentiva a participação das mulheres.
 
Atual patroa do CTG Galpão da Amizade, já participou do Piquete Pealo do Rincão e foi Capataz do Piquete Bonanza. Foi a primeira mulher a participar da Chama Internacional do Uruguai até Porto Alegre. Sandra Regina é a atual vice-presidente da diretoria da Ordem dos Cavaleiros do Rio Grande do Sul (Orcav).
 
Há mais de 30 anos na lida tradicionalista, Sandra Abech celebra ser escolhida como patrona e faz uma reflexão sobre o momento atual. “Amamos conduzir a cavalo a Chama Crioula para todos os cantos do Rio Grande do Sul, mas devemos nos voltar para dentro de nós e reacendermos nossa chama da sabedoria, da solidariedade, do amor e da nossa preservação” comenta.
 
Fonte! Chasque (reportagem) publicado no sítio oficial do Jornal do Comércio de Porto Alegre, em 04 de agosto de 2020. Abra as porteiras clicando em https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cultura/2020/08/750678-sem-acampamento-semana-farroupilha-ganha-formato-inedito-com-shows-e-oficinas-on-line.html