Bueno,
fui lá na cidade, na cooperativa de produtores, da qual sou associado, para
comprar trigo. Paguei quase dois pilas por quilo.Isso é uma barbaridade!
Me
disseram que o motivo foi a quebra da safra. Segundo a Emater a perda na
produção, andou beirando os cinquenta por cento.
-
Entonces o cacetinho virô uma cacetada, parcero?
-
É verdade, Eleutério. Só que cacetada é com “c” e cassetinho é com dois “ss”. A
palavra vem de Paris, na França. Lá, ainda hoje, existe uma rua com o nome de
Cassete, onde, desde 1800, fazem com farinha de trigo, água e sal, o “pão
françês”.
- A la fresca, eu pensava qui u cassetinhu
era um pão missionero, tchê!
Te digo isso, pruque teve um tempu qui
eu andei chibiando de chalana, nas água do Uruguai, arrancacontrabandianu farinha
de Yapeju prá São Marcos. De certa feita, eu tava isperanu a noite chegá i a
Gendarmeria Argentina afloxá a guarda, prá mete o bote na água.
Sentado
nas barranca eu dava uma linhada, prá disfarça, inquanto chuliava us milico du
otro lado do rio. Foi aí qui eu sinti um ronco nas tripa i me dei conta qui as
bicha já tavum cum fome, de novo, entonces me bandiei prá venda, prá forrá u
bucho cum uma bóia casera, da Lica, a criola du nego Sebo.
Entrei, puxei uma cadera, me sentei
ocupanu uma mesa, defronte da janela que dá prus ladu du rio i fiz um pidido
pru Sebo:
- Ô Sebo, me enche uma gamela de bóia
prá cevá as lumbriga, tchê!
- Seu Eleutério, hoje nóis temo sem
bóia. A Lica não tá. Foi fazê uma canja de galinha prá irmã dela, a Néia, qui
tresontonte pariu um piá.
- A La pucha, tchê! Nem café?
- Bueno, prá um cafezito se dá um jeito,
vivente!
-Tá loco de especial. Entonces ma enche
uma cambona de café cum leite i a cabresto, um pão d’água cum mortandela.
- Insiguidita, no más, índio veio.
passadu uns dez minuto, me vem u negu
Sebo cum uma cambona de leite, ispumando de quente, uma gamela atuida de pão i
uma cumbuca de porongo cum doce inté us gurgumiu.
- Taura, u café já tá na mão i como nóis
temo sem boia, u pão i a mistura é pur conta da casa.
- Mas ah, Sebo véio. Tu não te mixa pur
poca cosa, heim tchê!
- Por supuesto, i más uma cosita,
Parcero! Esse pão qui eu vô te regalá, troxe lá da pulperia do turco Mozia: é
um tal de Cassetinho i de lambuja não vai uma mortandela michuruca, vai uma chimia
das buenacha, de goiaba, daqui das barranca e feita pela Lica, nu tacho dus
ciganu.
Nun vá, aboletei a chimia Nu tal do
cassetinhu i me atraquei na caneca de café cum leite. Quanu tava nu meio da
tribuzana, senti chero de carniça. De soslaio, ispiei pela janela e vi, se
aproximanu, um chibero, daqueles borracho pur demás, i pió: correntino.
Mi fiz de chancho rengo, mas u
disgramadu du argentino, cum uma bituca infiada nus beiço i ruminando uma goma de
mascá, foi inticanu:
- Buenas gaudério, tienes fuego?
- Não tenho, tchê!
- Tchê, te gusta uma gomita?
- Ô correntino, taura bueno não mastiga
chiclete, prá afiá us dente, serve um naco de charque.
- Y que estás comiendo?
- Tu não tá venu qui é pão, tchê?
Issu aqui é um cassetinho, tu naum conhece?
- No conosco. Tu pan tiene solo
cascará.En argentina nosotros solo comemos la parte más macia. La parte más
dura ponemos en una olla de cobre, hacemos cassetinhos i los vendemos a los
gaúchos.
- Y que estás poniendo en el pan?
- É chimia, ora!
- Em argentina no hay chimia.
Nosotro solo comemos la fruta, fresquita no más. Las cascarás i las semillhas
ponemos en una olla de cobre, hacemos chimia i vendemos pa los gaúchos.
- Entonces, me diz uma cosa,
correntino esgualepado: U qui vocês fazem cum as camisinha depos di usá elas?
- Nosotros las pusimos en el
latón de la bassura.
-
Nós não. Premero nóis usemo bastante, adespos vamu juntanu inté inche uns
quatro o cinco pinico, aí nóis soquemu tudu num tacho de cobre, metemu fogo,
transformemo in chiclete e vendemo tudu prus argentinu.
Fonte! Coluna Charda de Peão desta semana, por Juarez Cesar Fontana Miranda (poeta nativista), publicada no Jornal Regional do Comércio, de Cidreira / RS. Contatos pelos chasques eletrônicos juarezmiranda@bol.com.br e/ou jornaljrcl@terra.com.br
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