domingo, 23 de agosto de 2015

A CADELA ALVOROTADA.....



Buenas Gauchada!
Desculpem o alarido, parceiros, é que todo esse alvoroço, da guaipecada, foi causado por uma das cadelas que está no cio.
- Ô Eleutério, Dás uns berros com a cachorrada e prende a cadela corrida lá na estaca do cinamomo, porque ninguém aguenta essa ganiçada quando uma delas está alvorotada. Só assim para o chimarrão ficar mais tranquilo e a charla menos barulhenta, não é?
- Mas, é claru qui sim, tchê! I óia só: essa fuzarca da cuscaiada mi feiz alembrá qui, há um tempito atrás, quanu Cachoera du Sul ainda era a capital nacional do arroz, u meu parcero - u Ormiro - se acostô numa changa, nas granja de arroz dus Tischler.
Comu a changa ia si ispichá na safra intera, u Ormiro si boliô, de mala i cuia, na lavora i, tamém levô a muié véia, o gurizito, seu fíu, a cadela du guri i u pingo gatiado i, dessa manera, si arranchô numa tapera, na barranca du Jacuí, prus ladu da Vila du Piquiri.
Lá na granja, u Ormiro era um dus tratorista qui preparáva a lavora, aranu a terra, prá u plantiu du arroz. Comu passava todu dia trabaianu, aboletadu in riba dum trator, de manhã, ele já levava a bóia du almoçu i, adespos qui u guri chegava da iscola Sagradu Coraçaum, de tarde, levava prá ele uma boteja de café preto cum farinha, uma perna de salame e um pão casero.
Pru piazito, levá a bóia da tarde pru pai, qui tava lá nu meiu da plantaçaum de arroz, era uma baita duma farra. Todus us dia u guri botava um xergaunzito nu lombo du gatiado, passava a mãum num guardanapu, feitu de sacu de açucar, acomodava u farnel fazendo uma troxa, dava uma assubiu prá cadela i rumbiava na direção du corredor, que costiava a granja, inté chegá nu plantiu.
Du ranchu inté a lavora dava mais de légua i meia. Inté chega lá, u qui levava mais de hora, u guri, u cavalu i mais a cadela, fazium tudo qui era istripulia: pulavum macega, ispantavum as perdiz, si infiavum nus banhadu, currium us queru-queru, i a folgança ia anssim, pur aí a fora.
Numa olada, u guri se apreparô prá faina de todus us dia. Fez a troxita, incilhô u pingu, deu um vistaço i naum viu a cadela. Comu a bichinha sempre tava pronta, antes dele, prá si mandá pru campu, u piá istranhô u acontecidu, entonces arresorveu dá um assubiu prá cadela.
Nada! Deu otro assubiu, mais otro i nada da cadela aparecê. Loguito viu qui tinha caroçu nu pirão. Atô as rédia du gatiadu num gaio da pitanguera, qui tinha in fronte das casa, pindurô a troxa du café na tramela du portaum i rumbianu pru fundu du quintal, se largô a percurá a parcera de troça.
Bombiô nu galpaum, oiô detráis du chiquerru, ispiô drentu du galinheru i, inte apercurô nu meiu das taquarera. Nadica de nada. Mais aplastadu qui garrão de alpargarta disbeiçada, u guri pegô a gritá: Mãnheee, a cadela sumiu!
- Sumiu cosa ninhuma, guri! Para de gritá i leva u café du teu pai qui ele botô a colera i prendeu ela na corrente, lá na manguera de pedra, pruque ela tá alvorotada, viu?
- Ô mãnhe, u qui é cadela alvorotada?
- Pregunta pru teu pai, qui ele é homi i sabi dissu mió qui a tua mãe.
U guri vai até a manguera, solta a cadela, monta nu gatiadu i si manda prus ladu da lavora. Vai num galope só, loco de vontade de chegá duma vez, discubri  a reboldosa i matá a curiosidade.
Mal chegô i, ainda, incarapitadu nu lombu du cavalu, já foi priguntado: Paiêêê, u qui é cadela alvorotada?
- Issu é cosa pra gente grande, tu vai aprendê, mas só adespos. Pur inquantu sigura essa cadela beim firme qui eu vô passá um poco de ólio disel, du trator, imbaxo du rabu dela. Insiguidita essa situaçaum tá arresorvida.
U guri ficô quietitu, no más, viu aquilu qui u pai feiz i ficô só tiranu uma tenência de tudu. Entonces deu demão nu cavalu i foi tomanu u rumu das casa, adonde tava cheganu, mas, sem a cadela.
A mãe, se apercebenu da coisa, desde qui u guri entrô na portera, foi logu priguntanu: Ué meu fíu, i a cadela? Num veio cuntigu?
- Vim, ela veio, né mãe! Mas, u ólio qui u pai botô nela acabô antes dela chegá inté as casa.
Mas tu não te procupa, qui um cusco, desde lá du corredor, já tá trazenu ela. I rebocada, viu, mãe?


            Fonte! Chasque Charla de Peão da semana passada - especial para todos os pais do Rio Grande e de toda esta terra em redor que chamamos de mundo, por Juarez Cesar Fontana de Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS), publicado no Jornal Regional do Comércio. Contatos: juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br



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