Nas terras do Balbino, tinha muitos mistérios, pois lá desapareciam muitos animais como terneiros, bezerros, até o cão da casa grande desceu para o lago e nunca mais voltou. Contudo o que mais causava intriga era o desparecimento de alguns pescadores. A lagoa era profunda e de todas as buscas nunca de lá se tirou nenhum corpo, teve um que a policia acampou e de dentro do lago nada tirou.
Contam os sobreviventes que iam pescar em turma que num descuido e cadê o companheiro e tudo isso acontecia no lagoão do Balbino, também conhecido por lagoa da Ferradura.
Outro nome também conhecido, já dos mais antigos, era Lagoa da Moça Bonita, porque tinha gente que dizia que uma mulher aparecia assim do nada naquelas águas mansas e claras e de tão linda que era puxava para o fundo da água o coitado do pescador.
A lagoa da Ferradura tinha mesmo um formato de ferradura e muita vegetação na volta, numa ponta uma floresta imensa onde ela penetrava, na noite lá ninguém pescava porque diziam ser assombrada, se ouvia gemidos, risos e muito barulho no mato, mas na outra ponta, ficava num descampado, era onde todo mundo costumava ficar, quem ousava se arriscar a pescar na ponta com mata profunda podia não mais voltar.
Otávio foi um dos poucos que por lá se arriscou e que tudo testemunhou, jura de pé junto que viu a linda mulher e que ela apareceu de dentro do lago colocando para fora somente a cabeça, bem na beirada do lago e que levou um susto quando ela emergiu, numa beleza descomunal com olhos azuis e uma boca vermelha, uma pele maravilhosa e seios volumosos, ele disse que ficou ali a poucos centímetros dela , pois estava agachado, verificando o anzol que ficou sem a isca. Quando ela estendeu suas mãos e ele foi agarrar, apareceu o Joaquim gritando nas suas costas:
- Otávio vem cá olha só o que tem aqui, veja só o tamanho desse bicho. Então ele levantou a cabeça e quando voltou a olhar para a água, ela tinha desaparecido. Foi olhar o que o Joaquim falou, era um sapo enorme e ele riu e disse:
- Puxa eu estava olhando uma princesa e quando eu ia puxar ela para fora d’água, tu me chama para olhar prá esse sapo.
- Que princesa tu tá falando homem. Tu tava sozinho na beira d’água.
- Tava? Ahhh, deixa para lá tu não vai entender mesmo.
- Eu, heimmmm. Acho que a cachacinha tá fazendo efeito. Mas não pesco mais neste lado, Otavio, as iscas não duram no anzol.
Otávio retirou as linhas d’água, pois começava a escurecer e aquela visão causou também um pouco de medo, pois aquela mulher bela, não era coisa desse mundo.
Otávio conta a história, e não cansa de repetir. Fazem troça com ele em qualquer lugar por onde relata.
Foi numa dessas conversas no bar do Aldo, que o valente do Basílio falou para o Otávio:
- Pois vamos eu tu pescar neste lago, mas desta vez vamos amanhecer, quero ver se existe mesmo essa mulher que vive embaixo d’água, pois isso é impossível homem de Deus e estou cheio das tuas mentiras.
- Pois vamos, ela apareceu para mim as seis horas da tarde, nunca vou esquecer nem a hora nem a visão.
- Tudo bem, nós vamos mas depois dessa se eu não ver nada, tu nunca mais conta essa história por aqui, porque não aguentamos mais ouvir teus lamentos de não ter dado a mão e puxado a moça para fora.
Então Otávio foi pressionado e não era homem de recuar, pois dizia para todo mundo que não era homem de mentir e que tudo que dizia tinha realmente acontecido, logo o bar se dividiu e as apostas foram feitas, mais da metade apostou dinheiro na história do Otávio, mas muitos incrédulos apostaram em Basílio.
A pescaria foi marcada e arranjaram outro companheiro que era o Carlos dono do camioneta, partiram os três para a Lagoa do Balbino ou Lagoa da Ferradura.
Chegando lá armaram a barraca bem na ponta, no meio da floresta, lá tinha lenha em abundância, a lagoa era enorme, caminhando em volta dela, dava em torno de quatro quilometros, de largura tinha duzentos metros e fama de muito peixe.
Enquanto Basílio e Carlos catavam lenha seca no meio da mata, antes da noite chegar, as linhas postas na água, apareceu do meio da mata um velho caboclo com um facão na mão e se aproximou de Otávio:
- Buenas moço, toma cuidado, essas águas são perigosas, hoje é noite de lua cheia e a moça bonita vai aparecer, ELA FEZ TU VOLTAR, quem ela põe o olho ela leva pro fundo. Se ela estender seus braços tu não pega não, pois se ela te segurar ela te puxa pro fundo e tu não vorta mais.
Dizendo isso ele seguiu caminhando e desapareceu no meio das árvores, quando Basílio e Carlos voltaram Otávio falou:
- Viram o velho que veio do lado de vocês?
- Que velho? Só tem é passarinho,rato e cobra por onde andamos. – Disse Carlos.
- Ihhhh, já começou vendo coisa que a gente não vê – Zombou Basílio.
A noite chegou e as linhas na água, fogo clareando a mata na volta. Nada de peixe quando a lua cheia despontou redonda e linda foi subindo. Era cerca de onze da noite e nada de peixe e as iscas desaparecendo.
Otávio puxou a linha na beira dágua e foi quando do fundo d’água apareceu a moça da lagoa, era linda pois o clarão da lua iluminou seu rosto, olhos graúdos e azul e Otávio hipnotizado pela beleza da moça que estendeu suas mãos, Basílio então percebeu o que estava ocorrendo, Carlos fazia arroz numa panela de ferro, quando se ouviu o barulho thumbummmm, lá se foi Otávio para o fundo do lago, Basílio até segurou seu pé mas só ficou com o sapato na mão e viu quando a moça olhou no fundo dos seus olhos.
Começou a barulheira, vindo do fundo da floresta, era uma gargalhada de uma mulher e gemidos de muitos homens, Basílio e Carlos deixaram tudo para trás e partiram com a camioneta em direção da cidade, apavorados e incrédulos, pois deixaram para trás o coitado do Otávio.
A procura por Otávio foi feita pela polícia. Mergulhadores foram chamados para achar o corpo de mais uma vítima da lagoa da Moça Bonita, mas o fundo tinha algas compridas e era muito escuro, em vão nada acharam.
Basílio então contava para todo mundo a história, assim fez por cinco anos;
- Quase salvei ele, mas ela me olhou. Que moça mais linda.
Um dia chegou no bar que tava cheio de gente, Basílio falando de novo da Moça da lagoa quando um amigo disse para ele:
- Aposto contigo, que toda essa tua história é mentira. Te desafio a irmos lá e vamos apostar aqui que depois de voltarmos daquele lugar, tu para de mentir prá gente.
Basílio que não gostava de ser chamado de mentiroso, se levantou bravo e deu um soco na mesa e disse:
- Aposto!
Por Beraldo
Fonte! Chasque publicado no Sítio Facebook Rio Grande Antigo por Celia Carvalho. Abra as porteiras clicando em
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