segunda-feira, 20 de julho de 2015

Camotes de Cambicheiro



Buenas Gauchada!
Puxem um cepo, se entreverem na roda do mate e se abanquem, no más, enquanto eu vou encilhando um amargo, daqueles de esquentar os mondongos.
- Ô Eleutério, vai lá na prateleira, ao lado do fogão a lenha e me prepara uma dose daquela cachaça douradinha, a Bento Albino, que eu ganhei do Alambique do Espraiado, lá pras bandas de Maquiné.
- Mas que tal, hein, parcero véio! Hoji tu tá te puxanu, tchê?!
- Faz o seguinte, Eleutério: em vez de uma dose, me traz a garrafa inteira.
- Ué tchê, hoji é u teu aniversáriu?
- Não, não é o meu aniversário, mas é para uma comemoração.
- Barbaridade! Nessa olada i cum essa cachaça, loca de ispeciá, naum é comemoraçaum é bebemoraçaum. Mas, entonces, naum é?
- Tchê, é prá comemorar, junto com os leitores da Charla de Peão, o sucesso alcançado pelo Chasque para um Cambicho, que escrevi para homenagear nossas prendas, no mês dos namorados.
Foram dezenas de manifestações, das mais diferentes maneiras; todas de estímulo e muito carinhosas. Por isso, como forma de agradecimento, nada melhor que um chimarrão, bem cevado, com erva de carijo, dos pagos da Palmeira e amadrinhado por uma cachacinha, pura de alambique, da querência de Maquiné. É verdade, ou não é?
- É a más pura das verdade, indiu véiu.
I tu sabe, tchê, qui todu esse inliu de mate cum cachaça i cambichu me fez alembrá uma gauchada, qui u meu parcero, u Ormiro, arreglô quanu nóis trabaiva na implantaçaum duma granja de arroz orgânico, na Fazenda dus Volkmann, lá im Tapes, hoji Sentinela du Sul.
Pos naum é qui u Ormiro se inrrabichô numa mulata, mui fremosa. A morochita, Elisete, era irmã du Vilmar, um vaqueano distrinchadu i fia du véiu Fortes, capataz da fazenda.
U Capataz, vendu qui o Ormiro era sériu i trabaidô, não si importava cum us camote qui u Ormiro dava na fia dele. Inté achu qui ele fazia gostu na cambichada.
Mas u véiu capataz, tamém naum era bocó. Nada de negaceiu nas quebrada da fazenda. Namorá a fia dele, só nu ranchu. I nada de entrá pela porta da frente. U Ormiro só si intocava na casa da Elisete, entranu pela porta da cuzinha.
Buenu, num fim de semana quarqué, u Ormiro inventô de fazê uma média cum a famia da gauchita. Me leva um manojo de maçanilha prá prenda, uma garrafa de cachaça pru pai dela i ajoujada na espalda, a oitu baxu, chorona.
Já apotreadu nu ranchu da changa, u quera sogueava a prosa cum u chimaraum, adespos imbuçalô a charla num carreteru de lambê us beiçu i tudu amadrinhadu pela baguala da cachacita, inté qui u Ormiro mete a munheca na gaita i impeça um saracoteio, bem na hora qui uma manga dágua sisparrama pelas cuxilha du pagu.
Noite alta i dêle água. U véio convida u Ormiro prá posá nu ranchu. Ele ajeita us pelegu num cantu i ferra nun sonu soltu. De madrugadita, cum u panduio cheiu de bóia, tem um sonhu caborteru. Dá uns gritu i si acorda assustadu.
A guria, percebenu u trimiliqui, le prigunta u que hove. Aí, cum a voz toda trimida, ele isplica qui teve um pesadelo, entonces ela diz:
- Podi drumi di novu, qui agora eu vô ficá aqui, prá ti acalmá, tá meu bem?
U Ormiro se acoierô na prendinha i, de novu, desatô a ronquera. Daí a um poquito si acorda i todu suadu, conta prá moçoila:
- Tchê, guria! Sonhei de novu. Dessa veiz eu despencava dum baita perau i quanu tava cainu, bombiei umas chirca, numa tocera.
Mas báh, tchê! Mi sigurei cum toda a força, prá mode di não caí nu fundu daquele buracaum.
Agora, qui já passô u susto, vamu vortá a drumi?
- Bueno, intaum tu soltá as maum du chircaredo, tá meu nêgo?
Fonte! Chasque Charla de Peão da semana passada, de Juarez Cesar Fontana de Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS), publicado no Jornal Regional do Comércio. Contatos: juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br

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