domingo, 10 de maio de 2015

À Centelha Guapa



Buenas Gauchada! 

                   Hoje, de madrugadita no galpão do rancho, sentado num dos cepos que arrodeiam o fogo de chão e sorvendo um chimarrão, topetudo e bem cevado, pude escutar um bem-te-vi cantando lá no capão das pitangueiras. 


                    No arremate da madrugada, a barra do dia ligeirito se areganhava e eu repontava recuerdos, que acolherados ao cantar do passarinho, me faziam lembrar que o maior segredo da haragana felicidade estava escondido nos gestos mais simples da natureza e nas pequenas coisas da vida.


                         A lo largo dessa quimera gaudéria, meu pensamento corcoveou como um bagual aporreado, que escapando do tirombaço da armada do doze braças, arrebentou a porteira da invernada e se mandou campo fora, soltando a manada xucra da saudade.


                        Ensiguidita, no más, pude sentir arrinconada dentro do peito, uma risonha estampa que tinha, no riso, o brilho do sol matinal. Notei que o fulgor desse sorriso se arreglava, como se fosse o facho da luz de um candieiro a querosene.


                        Essa luz alumiava minha estrada na passagem pelo corredor da existência e resplandecia nos estribos da esperança redomona, onde me via enforquilhado na garupa, com a certeza de que, estava protegido e troteava de rédeas soltas nas coxilhas da vida, prás bandas do destino umbuzeiro, onde de certo, um dia, na olada em que eu lá chegar, irei beber da água fresca da cacimba, encostarei a cabeça nos pelegos dos arreios e, ao cabo, descansarei o lombo na sombra da pousada dos tropeiros.


                        Entonces, um sofrenaço nas idéias da tenencia galponeira me fez entender, por meio da consciência paisana, que a volteada daquele trinar do bem te vi avôengo, era simplesmente a centelha luminosa dizendo que nunca soubera o que seria, até ter os seus filhos.

Que, em vida, com nenhuma riqueza fizera tudo o que fizera e ainda acreditava que poderia ter feito muito mais e, que nunca imaginara ser aquela em que veio a se transformar quando olhou para os filhos e neles se reviu e muito menos que nunca imaginara amar alguém tão intensamente.


Pois saiba, centelha guapa que não interessa se o que fizestes era pouco ou era muito, o que importa é que os teus filhos vão te amar para sempre. Vão continuar a rir e a chorar e independentemente do que acontecer nesta vida, prosseguirão na crença de que o teu lume será a força inspiradora para a solução de qualquer problema.


                       Isto, porque creem que esse lampejo luminoso não seja nada mais que um naco de luz divina - que existiu na forma de uma prenda - que, pela constância de sua dedicação e pela perseverança do seu afeto, tinha um pouco de anjo e pela grandeza da sua alma e pela imensidão do seu amor, tinha muito de Deus.

Bueno, se não quiserem que eu abra a goela, feito leitão desmamado, não me peçam para dizer o nome dessa centelha guapa, porque só ouvirão: Mããeee!!!

                     Fonte! Chasque Charla de Peão desta semana, de Juarez Cesar Fontana de Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS), publicado no Jornal Regional do Comércio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário