Buenas
Gauchada!
Hoje,
de madrugadita no galpão do rancho, sentado num dos cepos que arrodeiam o fogo
de chão e sorvendo um chimarrão, topetudo e bem cevado, pude escutar um
bem-te-vi cantando lá no capão das pitangueiras.
No
arremate da madrugada, a barra do dia ligeirito se areganhava e eu repontava
recuerdos, que acolherados ao cantar do passarinho, me faziam lembrar que o maior segredo da haragana felicidade estava escondido
nos gestos mais simples da natureza e nas pequenas coisas da vida.
A lo largo dessa quimera gaudéria, meu pensamento corcoveou como um bagual aporreado, que escapando do
tirombaço da armada do doze braças, arrebentou a porteira da invernada e se
mandou campo fora, soltando a manada xucra da saudade.
Ensiguidita,
no más, pude sentir arrinconada dentro do peito, uma risonha estampa que tinha, no riso, o brilho do sol matinal. Notei que o fulgor desse sorriso se arreglava, como se
fosse o facho da luz de um candieiro a querosene.
Essa luz alumiava minha estrada na passagem pelo corredor da existência
e resplandecia nos estribos da esperança redomona, onde me via enforquilhado na
garupa, com a certeza de que, estava protegido e troteava de rédeas soltas nas
coxilhas da vida, prás bandas do destino umbuzeiro, onde de certo, um dia, na
olada em que eu lá chegar, irei beber da água fresca da cacimba, encostarei a
cabeça nos pelegos dos arreios e, ao cabo, descansarei o lombo na sombra da
pousada dos tropeiros.
Entonces, um sofrenaço nas idéias da tenencia galponeira me fez
entender, por meio da consciência paisana, que a volteada daquele trinar do bem
te vi avôengo, era simplesmente a centelha luminosa dizendo que nunca soubera o
que seria, até ter os seus filhos.
Que, em vida, com nenhuma
riqueza fizera tudo o que
fizera e ainda acreditava que poderia ter feito muito mais e, que nunca imaginara ser
aquela em que veio a se transformar quando olhou para os filhos e neles se
reviu e muito menos que nunca imaginara amar alguém tão intensamente.
Pois saiba, centelha guapa
que não interessa se o que fizestes era pouco ou era muito, o que importa é que
os teus filhos vão te amar para sempre. Vão continuar a rir e a chorar e independentemente
do que acontecer nesta vida, prosseguirão na crença de que o teu lume será a
força inspiradora para a solução de qualquer problema.
Isto, porque creem que esse lampejo luminoso não seja nada mais que
um naco de luz divina - que existiu na forma de uma prenda - que, pela constância
de sua dedicação e pela perseverança do seu afeto, tinha um pouco de anjo e
pela grandeza da sua alma e pela imensidão do seu amor, tinha muito de Deus.
Bueno,
se não quiserem que eu abra a goela, feito leitão desmamado, não me peçam para
dizer o nome dessa centelha guapa, porque só ouvirão: Mããeee!!!
Fonte!
Chasque Charla de Peão desta semana, de Juarez Cesar Fontana de
Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS),
publicado no Jornal Regional do Comércio.
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