A Califórnia começa em 1971 com uma única linha de premiação no quesito de estilo ou características poéticas. Na sequência de classificação de 1º a 3º lugar, previa ainda a premiação para melhor intérprete masculino e melhor intérprete feminino, melhor arranjo, melhor vocal e a mais simpática, que na verdade esta última refere-se a mais popular.
O folclorista e pesquisador João Carlos D´Avila Paixão Côrtes, presidente da Ordem dos Músicos à época da Criação da Califórnia, conta em seu livro “Aspectos da música e fonografia gaúcha”, que participou das primeiras edições, inclusive como jurado, mas sua tarefa importantíssima se deu também no campo da pesquisa e assessoramento como palestrante que foi já na segunda edição em 1972.
Conta ainda ter sugerido uma alteração no regulamento do festival, por ocasião de encontro preparatório da 5ª edição em 1975, em Porto Alegre, com a presença dos organizadores, entre eles: Colmar Duarte, José Antônio Hans e Telmo de Lima Freitas. Esta alteração adotaria mais formas de premiação que contemplasse outros estilos poéticos e musicais sem fugir do contexto da regionalidade cultural gaúcha.
O que se pode acompanhar a partir de então foi a introdução de premiações nas seguintes modalidades: campeira, manifestação Riograndense e projeção folclórica. Estas alternativas de premiações que abrangem as centenas de composições concorrentes da Calífórnia passaram a ser adotadas também pela gama de outros festivais nativistas que surgiram a partir de então.
O PIONEIRISMO
A década de 1970 nasce sob a ânsia de musicar o amor pelo Rio Grande do Sul de forma que fosse além do regionalismo já sentido nas músicas de Pedro Raimundo, Teixeirinha, Gildo de Freitas e tantos outros pioneiros.
A Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, tornou-se o festival pioneiro do nativismo. Citada em seu livro “Califórnia da Canção Nativa, Colmar Duarte e José Édil de Lima Alves”, tanto Colmar Duarte como seu parceiro de autoria, além de Paixão Côrtes, Hugo Ramirez (presidente do MTG na época da criação), Glaucus Saraiva, entre outros pesquisadores e expoentes da música regional, inclusive fora de nosso Estado, e por finalmente a própria crítica musical, entendem que a partir do surgimento da Califórnia, a música gaúcha, assim como o comportamento da sociedade riograndense passam a ter sentido totalmente voltado ao culto do regionalismo poético.
As letras das composições passam a conter a essência do homem do campo e suas raízes. O apego do peão campeiro ao cavalo e às suas “quinquilharias” e principalmente ao pampa, seu habitat. A querência recebe a partir de então a dedicatória em forma de telurismo.
A poesia xucra das composições, traz em seus versos termos gauchescos que tratam do trabalho rural e tudo que se refere às estâncias, além de ressaltar a beleza dos campos e do bioma pampa. Surgem nos versos musicados nos ritmos variados, mas destaca-se a melodia triste das milongas.
O nativismo que já existia, mas que tinha pouca visibilidade ou expressão na forma poética e telúrica, ganha com o festival e a partir dele um espaço valioso entre os jovens que passam a compor e principalmente a participar ativamente do culto à tradição gaúcha. Surgem poesias com expressões que relatam a lida campeira e que eram, em muitos casos, até desconhecidas do público.
Outras cidades passam a realizar festivais de cunho nativista. Na década seguinte mais que triplicaram nos quatros cantos do estado. Surgem a cada ano grandes artistas e descobrem-se centenas de novos talentos através das composições. Cantores já consagrados entram também nesta corrente de exaltação riograndense através deste novo formato de musicar o gaúcho.
Hoje já se pode afirmar que o nativismo dos festivais mesclou o regionalismo e linhas melódicas dos antepassados com o telurismo poético do homem rural e tudo o que o cerca, desde os animais, a estância, as lidas e os utensílios de montaria e principalmente o seu romantismo junto a mulher amada e os filhos. É a realização do homem numa vida simples, mesmo que rude, mas que lhe basta como ser humano.
A tradição gaúcha foi impulsionada pelos festivais. Pois se antes era vexame andar pilchado, hoje é orgulho. Se antes usar bombacha e bota era coisas dos “antigos” ou dos “grossos”, hoje é moda desde os mais jovens até os veteranos.
Edição e pesquisa: Cesar Tomazzini. Sítio Facebook: https://www.facebook.com/cesartomazzini.liscano
Fonte: Aspectos da música e fonografia gaúcha, Paixão Côrtes.
Fotos: acervo da página no facebook da Califórnia, e google imagens.
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