Hoje,
depois da lida campeira, já encilhando um mate na volta dum fogo de chão, olhei
pros lados da porta do galpão e vi o sol se acrocando num repecho da coxilha
enquanto a boieira vinha, a trote largo, soltando as rédeas na boca da noite.
De
vereda, uma coplita milongueira se rebolcou no meu peito, foi amadrinhar o
chiado da cambona cascurrenta e bailar com a picumã incendiada, num sarandeio
abagualado que arrodiando a luz do candieiro, no meio da fumaça dum angico,
subia no rumo da quincha do galpão.
Nessa
olada, o ronco da cuia me pealou repontando uma tropilha de lembranças
caborteiras, que aquerenciadas dentro d’alma teimavam em se desgarrar do meu entendimento
e, a lo largo, faziam meu coração aporreado se enforquilhar numa reminiscência
redomona que se mandava campo fora só prá retoçar no alpendre e se enfiar rancho
adentro, até se aboletar contigo, juntito do fogão a lenha, onde de certo
também mateias um chimarrão a preceito.
Uma
tenência apinhada de soledades também se abancou comigo e cabresteou meu
pensamento até o dia em que te vi, naquele fandango domingueiro. Eu nem te
conhecia e tu não sabias da minha existência até bailarmos uma marca
chamamecera: “...quando tu me quieras se
irán los dolores,renacerán flores em mi corazón...”
Minhas
pernas bambeavam mais que taquara verde num temporal; meu coração corcoveava
num alçado descompasso, como querendo se desgarrar das maneias do meu peito,
enquanto tua cara coloreava como a flor da corticeira na primavera - num suave
tom carmesim.
Nossa
pele respirava, coladita uma na outra e quando nossos corpos se acolheraram e
nossas miradas se entreveraram eu, que só araganeava, resbalei no lajeado da
cacimba dos teus olhos, me embebedei com a agua mansa do teu olhar e entonces,
meu trotear pelo corredor da vida tomou outro norte.
E eu, que
era quera largado e teatino, que até aquele dia nunca quisera alguém que me
ajoujasse numa canga; que tinha um medo danado de dar uma rodada numa lomba
embalastrada pelos saracoteios de algum cambicho, não tive cancha prá bolear a
perna do pingo manhoso e candongueiro que sogueava meu coração passarinheiro
prá assentar o facho no manacial dos afetos, que naquela feita já brotavam na
sesmaria dos teus abraços.
Quando
tua mão palmeou meus dedos descobri a vereda dos meus ventos, bombiei na tua
mirada o meu destino e até hoje estamos enrabichados, um embuçalado no olhar do
outro e, naturalmente, ainda continuamos carrapateados, batendo estribos no
mesmo trote.
Bueno, quando
enveredo pros lados do rancho, roseteio o pingo porque meu coração,
encharcadito das vontades de estar nos teus costados, veiaqueia uma barbaridade,
mas, como só falatório não encangalha tudo o que sinto por ti, vou levando, nos
peçuelos, um manojo de flores do campo, prá te dizer gracias por existires e teres
surgido na minha vida.
Te amo, prenda minha! Por isso, todo este teretetê
Fonte!
Chasque Charla de Peão desta semana, de Juarez Cesar Fontana de
Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS),
publicado no Jornal Regional do Comércio.
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