Nascido em Pelotas, RS, Simões Lopes Neto (1865-1916) foi jornalista,
empresário, funcionário público, proprietário rural e homem de letras.
Sua obra abrange o teatro, a história, a pesquisa literária e a ficção. O
ponto marcante de sua produção é a ficção regionalista, com "Contos
Gauchescos" (1912, há cem anos) e "Lendas do Sul" (1913).
Os relatos desses dois livros, que edições posteriores uniram em um só, são feitos por Blau Nunes, um velho gaúcho cruzador de caminhos, que conta suas vivências e histórias que presenciou ou de que tomou conhecimento em sua longa vida. São relatos de guerras, de amores, de tragédias, de grandes feitos. O recurso estético de valer-se de Blau Nunes permite a Simões Lopes Neto utilizar uma linguagem fortemente marcada pela oralidade, como uma narrativa entreouvida ao pé do fogo de chão, um desses tantos "causos" que os gaúchos contam e recontam todas as noites nas estâncias, num entretenimento saudável de homens rudes.
Toda a literatura de Simões Lopes Neto está impregnada pela aura que emana da vida da campanha. É uma visão dinâmica e intensa do homem do campo, é o retrato sensível de dramas, costumes, hábitos, valores morais e psicológicos. E é exatamente ao captar esse substrato humano que sua literatura se universaliza e extravasa fronteiras para depor sobre um ciclo no labirinto existencial da humanidade. O coração do gaúcho, por certo, é um coração com domicílio, mas feito com a mesma fibra de emoção que faz pulsar o coração dos outros homens.
Os estudiosos da obra de Simões Lopes Neto, a exemplo de Guilhermino César e Moysés Vellinho, frequentemente destacam seu pioneirismo nas letras brasileiras. Enquanto os modernistas buscavam esse encontro entre o Brasil real e a literatura, Simões Lopes Neto já realizava no RS essa proposição do projeto modernista.
A linguagem de Simões Lopes Neto se transfigura na linguagem de Blau Nunes. Com mestria, o escritor consegue fazer com que Blau Nunes tenha vida e voz próprias, com oralidade, prosódica viva, coloquialismo e expressões dialetais. Como dizia o escritor Jorge Luís Borges, encontrar a fala de uma personagem é encontrar um destino. E encontrar a voz de Blau Nunes é descortinar um mundo onde ficção e realidade se fusionam e abrem portas para a alma extasiada do leitor.
Simões Lopes Neto não encontrou em vida o reconhecimento que merecia. Morreu pobre e desprovido de bens. Mas sua obra, pelo que apresenta de vital originalidade, empreendeu um rumo de progressivo sucesso. Hoje, o escritor vive na memória de sua gente, que se reconhece em muitas das personagens que ele criou, além de revigorar o conceito de querência em páginas das mais sensíveis da literatura brasileira.
Fonte! Chasque do professor, escritor e advogado Landro Oviedo (landrooviedo@correiodopovo.com.br), publicado no jornal Correio do Povo de Porto Alegre - RS, na edição do dia 07 de agosto de 2012.
Fonte do retrato: www.cursodeportugues.zip.net.
Os relatos desses dois livros, que edições posteriores uniram em um só, são feitos por Blau Nunes, um velho gaúcho cruzador de caminhos, que conta suas vivências e histórias que presenciou ou de que tomou conhecimento em sua longa vida. São relatos de guerras, de amores, de tragédias, de grandes feitos. O recurso estético de valer-se de Blau Nunes permite a Simões Lopes Neto utilizar uma linguagem fortemente marcada pela oralidade, como uma narrativa entreouvida ao pé do fogo de chão, um desses tantos "causos" que os gaúchos contam e recontam todas as noites nas estâncias, num entretenimento saudável de homens rudes.
Toda a literatura de Simões Lopes Neto está impregnada pela aura que emana da vida da campanha. É uma visão dinâmica e intensa do homem do campo, é o retrato sensível de dramas, costumes, hábitos, valores morais e psicológicos. E é exatamente ao captar esse substrato humano que sua literatura se universaliza e extravasa fronteiras para depor sobre um ciclo no labirinto existencial da humanidade. O coração do gaúcho, por certo, é um coração com domicílio, mas feito com a mesma fibra de emoção que faz pulsar o coração dos outros homens.
Os estudiosos da obra de Simões Lopes Neto, a exemplo de Guilhermino César e Moysés Vellinho, frequentemente destacam seu pioneirismo nas letras brasileiras. Enquanto os modernistas buscavam esse encontro entre o Brasil real e a literatura, Simões Lopes Neto já realizava no RS essa proposição do projeto modernista.
A linguagem de Simões Lopes Neto se transfigura na linguagem de Blau Nunes. Com mestria, o escritor consegue fazer com que Blau Nunes tenha vida e voz próprias, com oralidade, prosódica viva, coloquialismo e expressões dialetais. Como dizia o escritor Jorge Luís Borges, encontrar a fala de uma personagem é encontrar um destino. E encontrar a voz de Blau Nunes é descortinar um mundo onde ficção e realidade se fusionam e abrem portas para a alma extasiada do leitor.
Simões Lopes Neto não encontrou em vida o reconhecimento que merecia. Morreu pobre e desprovido de bens. Mas sua obra, pelo que apresenta de vital originalidade, empreendeu um rumo de progressivo sucesso. Hoje, o escritor vive na memória de sua gente, que se reconhece em muitas das personagens que ele criou, além de revigorar o conceito de querência em páginas das mais sensíveis da literatura brasileira.
Fonte! Chasque do professor, escritor e advogado Landro Oviedo (landrooviedo@correiodopovo.com.br), publicado no jornal Correio do Povo de Porto Alegre - RS, na edição do dia 07 de agosto de 2012.
Fonte do retrato: www.cursodeportugues.zip.net.
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