Anita Garibaldi |
Alguns estudiosos alegam que Anita Garibaldi teria nascido em Lages, que
na cúria metropolitana daquela cidade estaria o registro dos irmãos
mais velho e mais novo dela, e que teria sido retirada do livro a folha
do registro de Ana Maria de Jesus Ribeiro. Em 1998, entidades
representativas da sociedade civil de Laguna promoveram uma ação
judicial para obter o registro de nascimento tardio de Anita Garibaldi. A
ação tramitou na primeira vara da comarca de Laguna, sendo instruída
com diversos documentos que comprovariam que Anita nasceu no município
de Laguna.
Descendente de portugueses imigrados dos Açores à província de Santa
Catarina no século XVIII, provinha de uma família modesta. O pai Bento
era comerciante em Lages e casou-se com Maria Antônia de Jesus. Anita
era a terceira de 10 filhos (6 meninas e 4 meninos).
Após a morte do pai e o casamento da irmã mais velha, Anita cedo teve
que ajudar no sustento familiar e, por insistência materna, casou-se, em
30 de agosto de 1835, aos 14 anos, com Manuel Duarte de Aguiar , na
Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Depois de somente três
anos de matrimônio, o marido alistou-se no exército imperial,
abandonando a jovem esposa.
Anita tinha 18 anos quando encontrou-se com Giuseppe Garibaldi. Ele
tinha 32 anos. Garibaldi tomava parte das tropas farroupilhas de Davi
Canabarro, em julho de 1839, que chegaram para tomar Laguna e formar a
República Juliana.
Ao chegar a Laguna, a bordo da embarcação "Itaparica", tomada do inimigo
e armada com sete canhões, Garibaldi observava com uma luneta as casas
da barra de Laguna. Observou então, em um grupo de moças que passeava,
uma jovem cujo rosto conquistou sua imaginação e seu coração.
Providenciou um barco, foi até a margem e depois até o local onde a
tinha visto, porém não a encontrou.
Tinha perdido a esperança de encontrá-la, quando um habitante local o
convidou a ir a sua casa para um café. Garibaldi aceitou e na casa
encontrou a jovem que procurava. Assim Garibaldi relata o encontro em
suas memórias: "Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era
aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus
filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher
cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e
silenciosos, olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se
vissem pela primeira vez e que buscam na aproximação alguma coisa como
uma reminescência. A saudei finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser
minha!'. Eu falava pouco o português, e articulei as provocantes
palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha insolência. Havia
atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia
desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de
grande valor."
Em 20 de outubro de 1839, Anita decide seguir Garibaldi, subindo a bordo de seu navio para uma expedição militar.
Em Imbituba recebeu o batismo de fogo, quando a expedição corsária foi
atacada pela marinha imperial do Brasil. Dias depois, em 15 de novembro,
Anita confirma sua coragem sem fim e seu amor heroico a Garibaldi na
famosa batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, na qual se
expõe a grande risco de morte, atravessando uma dúzia de vezes a bordo
da pequena lancha de combate para trazer munições em meio a uma
verdadeira carnificina.
Em 12 de janeiro de 1840, Anita participou da batalha de Curitibanos, na
qual foi feita prisioneira. Durante a batalha, Anita provia o
abastecimento de munições aos soldados. O comandante do exército
imperial, admirado de seu temperamento indômito, deixou-se convencer a
deixá-la procurar o cadáver do marido, supostamente morto na batalha. Em
um instante de distração dos guardas, tomou um cavalo e fugiu. Após
atravessar a nado com o cavalo o rio Canoas, chegou ao Rio Grande do
Sul, e encontrou-se com Garibaldi em Vacaria, oito dias depois.
Em 16 de setembro de 1840, nasceu no estado do Rio Grande do Sul, na
então vila e atual cidade de Mostardas o primeiro filho do casal, que
recebeu o nome de Menotti Garibaldi, em homenagem ao patriota italiano
Ciro Menotti. Doze dias depois, o exército imperial, comandado por Pedro
de Abren, cercou a casa para prender o casal, e Anita fugiu a cavalo
com o recém-nascido nos braços e alcançou um bosque aos arredores da
cidade, onde ficou escondido por quatro dias, até que Garibaldi a
encontrou.
Em 1841, quando a situação militar da República Riograndense tornou-se
insustentável, Garibaldi solicitou e obteve do general Bento Gonçalves a
permissão para deixar o exército republicano. Anita, Giuseppe e Menotti
mudaram-se para Montevidéu, no Uruguai, receberam um rebanho de 900
cabeças de gado, das quais, depois de 600km de marcha, 300 chegaram a
Montevidéu, em junho de 1841.
Túmulo de Anita, no Janículo em Roma.
O escultor Rutelli retratou a fuga
de Mostardas nesse monumento.
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No Uruguai, em 1842, dois anos e meio após seu encontro, o casal
legalizou sua união, na igreja de São Francisco de Assis, em Montevidéu.
A certidão de casamento era exigida pela constituição do Uruguai a quem
aspirava cargos públicos. Garibaldi foi indicado comandante da pequena
frota uruguaia, que combatia a potente esquadra naval argentina,
comandada pela almirante William Brown.
No Uruguai nasceram os outros três filhos do casal: Rosa (1843), Teresa
(1845) e Ricciotti Garibaldi (1847). Rosa faleceu aos dois anos de idade
por asfixia, por causa de uma infecção na garganta, o que fez Anita e
Garibaldi sofrerem muito.
Em 1847, Anita foi para a Itália com os três filhos e encontrou-se com a mãe de Garibaldi. Elas depois viajaram para a cidade de Nizza, (atual Nice, na França), onde ficaram morando. O próprio Garibaldi reuniu-se a eles alguns meses depois, quando voltaram a Itália. Os filhos de Anita e Garibaldi ficaram na França com a mãe dele.
Em 9 de fevereiro de 1849, presenciou com o marido a proclamação da República Romana, mas a invasão franco-austríaca de Roma, depois da batalha no Janículo, obrigou-os a abandonar a cidade. Com 3 900 soldados (800 deles a cavalo), Garibaldi deixou Roma. Em sua perseguição saíram três exércitos (franceses, espanhóis e napolitanos) com quarenta mil soldados. Ao norte lhes esperava o exército austríaco, com quinze mil soldados. Anita e o marido tinham que enfrentar a guerra e lutar para salvar o território italiano. Mesmo grávida do 5º filho, ela enfrentou tudo até o fim.
Anita, no final da gravidez, tentou não ser um peso para o marido, querendo deixá-lo despreocupado para lutar sozinho na guerra, em que ela poderia ir morar com a mãe dele, como seus filhos moravam, mas suas condições de saúde pioraram quando atingiram a República de San Marino. Ela e Garibaldi decidiram não aceitar o salvo-conduto oferecido pelo embaixador americano e continuaram a fuga, pois não teriam como lutar contra milhões de soldados e se fossem presos, morreriam na cadeia. Com febre e perseguida pelo exército austríaco, foi transportada às pressas à fazenda Guiccioli, próximo a Ravenna, onde morreu no parto junto com a criança, em 4 de agosto de 1849, para desespero de Garibaldi.
Caçado pelos austríacos, sem nem sequer poder acompanhar o sepultamento
da esposa, Garibaldi saiu outra vez para o exílio e nos dez anos em que
esteve fora da Itália, os restos mortais de Anita foram exumados por
sete vezes. Por vontade do marido, seu corpo foi transferido a Nice. Em
1932, seu corpo foi finalmente sepultado no monumento construído em sua
homenagem no Janículo, em Roma.
Considerada, no Brasil e na Itália, um exemplo de dedicação e coragem,
Anita foi homenageada pelos brasileiros com a designação de dois
municípios, ambos no estado de Santa Catarina: Anita Garibaldi e
Anitápolis. Muitas cidades brasileiras possuem também ruas e avenidas
com seu nome, como a avenida Anita Garibaldi, em Salvador, Bahia. Em
abril de 2012 foi sancionada a Lei 12.615 que determinou que seu nome
fosse inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da
Liberdade e da Democracia, em Brasília.
Fonte! Chasque publicado no Sítio do meu amigo e irmão Léo Ribeiro de Souza. Abra as porteiras: http://blogdoleoribeiro.blogspot.com.br/2012/08/30081821-nasce-heroina-gaucha.html.
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