sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Teixeirinha segue vivo no coração dos fãs 35 anos após sua morte



Com trajetória cheia de recordes e lendas, foi artista mais bem-sucedido da história gaúcha / Joyce Rocha / JC


Se tem uma coisa que não se pode dizer de Vitor Mateus Teixeira é que ele fizesse (e vivesse) as coisas pela metade. Na trajetória de Teixeirinha, a simplicidade e o superlativo sempre foram indissociáveis: não era homem de fugir dos riscos, de trabalhar pouco, de economizar paixões. Por isso mesmo, acabou sendo um artista que tocou muito, gravou muito e, acima de tudo, vendeu muito - na verdade, vendeu tanto que ninguém sabe fazer a conta, no que virou uma das muitas lendas em torno de sua pessoa.
 
A vida de Teixeirinha se encerrou há exatos 35 anos, no dia 4 de dezembro de 1985. Mas a estrela de uma lenda não se apaga quando o ser humano parte desta para melhor - menos ainda quando se trata de alguém que emocionou tanta gente, que conseguiu chegar tão fundo e com tanta frequência no coração do povo humilde do Rio Grande e do Brasil. Mais do que o artista musical mais bem-sucedido da história gaúcha, Teixeirinha é um dos maiores sucessos comerciais que o Brasil já viu, surgido de uma forma tão espontânea que surpreendeu todo mundo, inclusive o próprio.
 
De acordo com a Fundação Vitor Mateus Teixeira, que preserva itens ligados à memória do astro, o compacto contendo Coração de luto vendeu mais de 25 milhões de cópias; somando todos os mais de 70 LPs e compactos, teria chegado a estonteantes 130 milhões de discos vendidos. Alguns pesquisadores falam em números mais modestos, abaixo dos 20 milhões; outros, levando em conta cópias piratas, imaginam que o total seja ainda mais gigantesco. Um caminho e tanto para quem nasceu no pequeno distrito de Mascaradas, em Rolante, em 3 de março de 1927, e ficou órfão muito cedo - como conta, sem floreios, sua canção mais famosa.
 
Mesmo pegando o mais modesto - mas indiscutível - número de dois milhões de cópias vendidas para Coração de luto em 1961, a conta é de impressionar. Isso significaria que, "num País que tinha então pouco mais de 60 milhões de habitantes - dois terços deles no campo, a maioria sem energia elétrica - uma a cada 30 pessoas comprou o disquinho", como diz o compositor e pesquisador Arthur de Faria em um trecho do livro História da música regional gaúcha em Porto Alegre - uma biografia musical, que está em preparação.
 
"Teixeirinha é um artista do regionalismo, mas não exatamente do regionalismo gaúcho. Ele é um artista do regionalismo brasileiro", argumenta o jornalista Daniel Feix, responsável pela biografia Teixeirinha - coração do Brasil, publicada no ano passado pela editora Diadorim. "Ele dialoga com o público das mais diferentes regiões (do Brasil) de uma forma que nenhum outro artista identificado com o regionalismo gaúcho foi capaz de atingir, justamente porque está nele um gosto pela música caipira, romântica e popular."
 
Ao todo, Teixeirinha teve 754 músicas gravadas por diferentes artistas, e os responsáveis por seu acervo calculam que ele tenha escrito em torno de 1.200 músicas e letras - cerca de um quarto delas ainda inéditas. Participou de 12 filmes, e também se destacou no rádio, em quase três décadas de carreira intensa e incansável. A vida pessoal também foi movimentada e, em alguns aspectos, polêmica: teve nove filhos com diferentes mulheres, dois deles com a parceira musical Mary Terezinha, em um relacionamento brilhante e sombrio quase na mesma dimensão.
 
Sua própria partida causou fortes emoções: como o câncer nunca foi noticiado ao público, a morte pegou os fãs quase de surpresa. O velório, no Estádio Olímpico, reuniu 50 mil pessoas, com direito a carreata até o Cemitério da Santa Casa e amigos próximos precisando passar as condolências à família por recado, já que era impossível vencer a multidão e se aproximar da cerimônia.

Uma viagem arrebatadora rumo ao sucesso

Cantor e compositor tornou-se presença constante nos programas de auditório dos anos 1960
Fundação Teixeirinha / Divulgação / JC

A história tem ares de lenda, e todo mundo conta de um jeito diferente. Por isso mesmo, é ótima. Em 1958, Vitor Mateus Teixeira já tinha 31 anos quando recebeu um aceno de São Paulo: a gravadora Chantecler tinha criado um selo voltado à música sertaneja, e talvez se interessasse por um artista que remetesse ao som gaúcho. Depois de juntar uns trocados, e com a ajuda de alguns amigos, Teixeirinha saiu de Passo Fundo rumo à metrópole, para ver se a proposta virava realidade.
 
A viagem, na segunda classe de um trem, foi longa e cansativa - e por pouco não saiu mais caro do que se imaginava. Sonolento, e ao mesmo tempo ansioso para descer na estação, o artista esqueceu dentro do vagão seu preciosíssimo violão, pago em muitas prestações. Sem o instrumento, a esperança de gravar o primeiro compacto ia para o espaço; desesperado, jogou-se de volta para dentro do vagão. Quando saiu de novo, o precioso violão entre os braços, recebeu voz de prisão do guarda da estação, que estranhou aquele rebuliço e o tomou por ladrão. Pela versão do próprio Teixeirinha, contada em uma entrevista de 1976, foi o jeito de falar que o salvou de dormir a primeira noite em São Paulo no xadrez: ouvindo o sotaque do forasteiro, o policial disse "você é gaúcho, é gente bacana" e o deixou ir embora.
 
Até ali, a carreira de Teixeirinha era de relativo sucesso local, cantando em rádios do Interior e completando a renda com uma barraca de brindes, estilo tiro-ao-alvo, que administrava junto com a esposa Zoraida em Passo Fundo. Com músicas de boa aceitação nos bailões, o primeiro compacto de 78 rotações (com Xote Soledade e Briga no batizado) fez algum sucesso nas rádios, o que encorajou a Chantecler a bancar uma nova fornada de gravações - dentro da lógica da época, um artista gravava várias músicas de uma vez só, que iam sendo lançadas aos poucos nos meses seguintes. Os próximos dois compactos não renderam muita coisa, e o terceiro, lançado mais para o final de 1960, também demorou a causar alarde. Até que o lado B do disco começou a tocar nas rádios de Sorocaba, no interior paulista. E a ser pedido pelos ouvintes. Cada vez mais.
 
Coração de luto é, sem nenhum risco de exagero, uma das músicas mais populares que o Brasil já viu. A trágica (e autobiográfica) história do menino de nove anos que volta da escola e encontra a mãe queimada no fogo atingiu o coração dos brasileiros de tal forma que, durante vários meses, a Chantecler suspendeu todo o restante da produção, prensando apenas cópias do sucesso de Teixeirinha, sem parar. Nem assim se conseguia dar conta da demanda: os caminhões cheios de cópias nem iam para a distribuidora, saindo das fábricas direto para as lojas, muitas com filas na porta para comprar o disco.

Canções atacadas pela crítica e ameaças de censura

Segundo a Fundação Teixeirinha, vendas chegaram a 130 milhões de cópias
Joyce Rocha / JC

Teixeirinha deu-se conta que era um astro em um bar de Ribeirão Preto (SP), durante uma excursão armada às pressas para promover o disquinho que não parava de vender. No rádio, a voz do icônico Chacrinha surgiu, anunciando Coração de luto como a número um em todo o Brasil. O próprio Teixeirinha contava que ficou abestalhado, sem reação - e que quase desmaiou quando, no dia seguinte, chegou na sede da gravadora em São Paulo e soube que tinha dois milhões e setecentos mil cruzeiros lá, esperando por ele. Mais do que bem-sucedido, Teixeirinha tinha ficado milionário de uma hora para outra.
 
Um sucesso junto ao povo, mas não de crítica. Coração de luto logo ganhou o cruel apelido Churrasquinho de mãe, uma ironia que muito magoava o compositor. Seu trabalho simples e sem requintes virou sinônimo de grossura - uma leitura que se refletiu também na relação de Teixeirinha com a música tradicionalista. "Os festivais da canção nativa surgem, também, como uma tentativa de contraponto a essa música (do Teixeirinha), que tinha muito sucesso, mas que achavam que criava uma imagem negativa e caricata do gaúcho", argumenta o jornalista e crítico musical Juarez Fonseca.
Uma das muitas histórias quase lendárias em torno de Teixeirinha é a que o próprio chegou a se inscrever na primeira Califórnia da Canção Nativa, em 1971, com a faixa Última tropeada. A canção, porém, teria sido desclassificada pelo uso do berrante, instrumento não identificado com a tradição gaúcha.
 
Houve até tentativas abertas de censura. Segundo Daniel Feix, o crítico Sérgio Augusto, então em começo de carreira, chegou a escrever, no começo dos anos 1960, artigos pedindo que o governo tomasse uma atitude. "Ele simplesmente faz um apelo ao governador da Guanabara na época, pedindo que Teixeirinha fosse censurado, porque era um absurdo uma música de tanto mau gosto e apelativa ter tanta circulação", conta o biógrafo.

Relação com Mary Terezinha marcou sucesso e decadência do astro

Acordeonista acompanhou Teixeirinha durante mais de duas décadas
Fundação Teixeirinha / Divulgação / JC

Se a crítica quebrava os discos de Teixeirinha (inclusive literalmente, como aconteceu no programa Um Instante Maestro, de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi), o povo seguiu o amando de forma quase incondicional. Um sentimento potencializado a partir de 1961, quando surge a dupla com Mary Terezinha. Além de simpática e bonita, a acordeonista era talentosa e dominava a técnica musical - características que suavizavam, em mais de um sentido, a imagem cheia de arestas do cantor e compositor.
 
Além da parceria artística, os dois viveram como casal, chegando a ter dois filhos juntos - uma relação extra-conjugal pública, já que o músico nunca separou-se de sua esposa Zoraida. "Como metaforiza Mary, durante mais de 20 anos Teixeirinha foi a pintura e, ela, a moldura", escreve o pesquisador Francisco Alcides Cougo Junior, que fez sua dissertação de mestrado em História pela Ufrgs sobre a produção musical do compositor.
 
Se o surgimento de Mary marcou um longo período de sucesso para o artista, a separação da dupla, em 1984, acabou simbolizando, aos olhos do público, o ocaso de Teixeirinha. O rompimento foi tão midiático quanto a relação anterior: no livro A gaita nua (1992), a instrumentista pinta um retrato em tons pesados do ex-companheiro, e as acusações mútuas estamparam as manchetes dos jornais à época.
 
"Me parece que a situação afetou muito mais a ela", opina Cougo, em entrevista ao Jornal do Comércio. "Essa ruptura se dá em um momento em que não tínhamos muitas discussões que hoje temos, em especial as que se referem a questões de gênero. Os dois últimos discos dele falam muito de dor e separação e, mesmo que várias dessas músicas tenham sido escritas muitos anos antes, isso ajudou a impulsionar um imaginário de que ela seria culpada pela morte dele."

Um galã do cinema popular

Filha Márcia Teixeira preserva legado artístico coordenando a Fundação que leva nome do pai
Joyce Rocha / JC

Um aspecto que sempre se destaca na análise do fenômeno Teixeirinha é a visão de negócios que permeia seu trabalho. Gravando em média dois álbuns por ano, com programas de rádio indo ao ar em diferentes partes do País e uma intensa agenda de shows, o centralizador artista acabou tomando conta pessoalmente de quase tudo que envolvia sua carreira - mesmo nos aspectos mais prosaicos.
 
"Ele raramente usava motorista (para ir aos shows), confiava no braço dele", conta Márcia Teixeira, uma das filhas do astro e atual coordenadora da Fundação Vitor Mateus Teixeira, que preserva o legado artístico de Teixeirinha. "E as estradas não eram como hoje. Ele mesmo contava que, muitas vezes, descia a Serra com a Mary na frente (do veículo), para ir ajudando a desviar dos peraus (mudanças de nível na pista)", recorda.
 
O tino de Teixeirinha para os negócios apareceu também na telona. Após o sucesso de suas aparições nos filmes Coração de luto (1964) e Motorista sem limites (1969), criou sua própria produtora, Teixeirinha Produções Artísticas Ltda. Ao todo, a empresa lançou dez filmes de grande apelo popular (ver lista abaixo), muitos dos quais escritos e produzidos por ele próprio.
 
"Os filmes estavam na esteira de um cinema popular, que buscava um amplo apelo a partir de gêneros narrativos bem estabelecidos, como melodrama, romance, comédia, aventura. E também havia a parte musical, obviamente. Eram filmes para toda a família", conta Miriam de Souza Rossini, mestre em Cinema pela USP, professora da Ufrgs e autora do livro Teixeirinha e o cinema gaúcho.
 
Em muitas das películas, o cantor interpretava a si próprio, geralmente dividido entre aventuras mirabolantes (Teixeirinha a sete provas, A quadrilha do Perna Dura) e grandes dramas pessoais (Meu pobre coração de luto). Companheira nos palcos, Mary Terezinha também aparecia nos filmes, e chegou a ganhar papel de protagonista em Carmen - a cigana e A filha de Iemanjá. Não dá para dizer que as histórias fossem lá muito verossímeis, ou que as atuações fossem dignas de Oscar, mas eram ligadas a temas de grande apelo popular.
 
"Eu tive a oportunidade de assistir a algumas sessões públicas, em periferias, e fiquei bem impressionada com a receptividade das pessoas. Elas vibravam", lembra Miriam. "Olhando os filmes, desapegados das disputas da época, talvez se observe que muitas das críticas eram desnecessárias. Ele não era um grande ator? Bom, mas há vários atores assim por aí. Os filmes não eram bons? Mas para quem não eram bons? Quantos filmes são considerados bons e ruins, ao mesmo tempo? (Acho) simplificador dizer que os filmes são ruins", defende.
 
A aventura cinematográfica encerrou-se no comecinho dos anos 1980. As bilheterias já não eram as mesmas, parceiros de longa data (como o comediante Jimmy Pipiolo) não estavam mais presentes, e a televisão esvaziava o papel dos cinemas de bairro como entretenimento popular. Além disso, segundo Márcia Teixeira, o artista começava a manifestar a disposição de diminuir um pouco o ritmo e ficar mais tempo em casa - uma disposição que, no fim das contas, acabou não se concretizando como esperado.

Os filmes de Teixeirinha

Com ação, música e temas populares, películas foram sucesso de bilheteria
Joyce Rocha / JC

Pela Leopoldis Som:
1964 - Coração de luto
Pela Interfilmes:
1969 - Motorista sem limites
Pela Teixeirinha Produções Artísticas:
1972 - Ela tornou-se freira
1973 - Teixeirinha 7 provas
1974 - Pobre João
1975 - A quadrilha do Perna Dura
1976 - Carmem - a cigana
1978 - O gaúcho de Passo Fundo
1978 - Meu pobre coração de luto
1978 - Na trilha da Justiça
1980 - Tropeiro velho
1981 - A filha de Iemanjá

Arquivos incluem centenas de músicas inéditas

Décadas depois de sua morte, túmulo de Teixeirinha segue ponto de peregrinação
em Porto Alegre / Marco Quintana / Arquivo / JC

A separação amarga de Mary Terezinha, com direito a disputa nos tribunais pela guarda dos filhos do casal, somou-se à descoberta de um câncer no sistema linfático, em 1984. As tentativas de tratamento não tiveram efeito, e os comentários dos fãs sobre a queda de cabelo abateram ainda mais um homem que sempre teve complexos com a própria aparência.
 
Faleceu em casa, ao lado de familiares, ao final da noite de 4 de dezembro de 1985. Os fãs, é claro, seguem presentes: seu túmulo, no Cemitério da Santa Casa em Porto Alegre, é um dos pontos mais visitados no feriado de Finados em todo o Rio Grande do Sul.
 
Antes de morrer, gravou duas fitas cassete, a modo de testamento, deixando instruções para a família, pedindo que não deixassem de cuidar dos fãs. Por meio da Fundação Teixeirinha, Márcia Teixeira tem buscado cumprir: "Adoro fazer isso. No meu WhatsApp, a maioria (dos contatos) é fãs dele. Alguém me liga, diz que quer visitar o acervo ou a (residência do músico no bairro) Glória, e recebo com prazer", garante a filha. "Quem custeou a minha boa vida foi o fã que comprava o ingresso, o disco, os remédios que anunciava no rádio. Tenho gratidão por essas pessoas, e elas nos passam o amor que tinham por ele."
 
Gravar fitas cassete era um procedimento comum na vida de Teixeirinha. Além de discos, vestimentas, correspondências e instrumentos musicais, a Fundação preserva centenas de fitas caseiras, contendo músicas inéditas - segundo a família, mais de 300. Ele tinha o hábito de gravar suas partes em casa, com voz e violão, e enviar as gravações para São Paulo, onde receberiam tratamento. Graças a essas fitas, é possível esperar por muito Teixeirinha nos próximos anos. Lançado online em agosto, Teixeirinha inéditas reúne 12 canções resgatadas desses arquivos - muitas delas preservando os recados que o músico deixava para o maestro Poly, explicando sua ideia para cada faixa. "Brinco que ele foi o inventor dos recados de áudio no WhatsApp", ri o produtor fonográfico Raul Albornoz, que ajudou na seleção. O disco faz parte de um projeto chamado Antologia da composição, que promete trazer em breve mais gravações inéditas e registros ao vivo.
 
De acordo com Márcia Teixeira, os últimos contratos de Teixeirinha com as gravadoras que o lançaram em vida encerram-se ao final de 2022. A partir daí, a Fundação terá a tarefa de ir atrás das masters dos discos gravados por ele – além de investigar as muitas fitas não catalogadas, que podem estar pegando poeira nos porões de estúdios e gravadoras por aí. "Nada disso é nosso, não é para estar fechado nesse arquivo (da Fundação). Isso tudo é dos fãs, eles têm o direito de ouvir e conhecer."

Fonte! Chasque (reportabem) publicado no Caderno Viver, do Jornal do Comércio de Porto Alegre, na edição do dos dias 04, 05 e 06 de dezembro de 2020, por Igor Natusch, que é jornalista formado pela Ufrgs, com foco em temas de história, cultura, política e cotidiano. Em 2019, venceu o Prêmio ARI de Jornalismo, na categoria Reportagem Cultural, com a série de matérias sobre Patrimônio Histórico publicadas no Jornal do Comércio.
 
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