segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Teixeirinha repaginado!

Projeto resgata a obra do ídolo, morto em 1985
Projeto resgata a obra do ídolo, morto em 1985
“Prezados Teixeirinha e Mary Terezinha: por ser uma das maiores vossa fã, não poderia deixar de escrever essas palavras, desejando que esta encontre vocês gozando de tudo que é bom na vida (...)”. O trecho, de uma carta escrita com tinta preta e letras miúdas no dia 4 de outubro de 1970 por uma fã, é uma entre 30 mil missivas já amareladas pelo tempo. Todas elas integram o acervo da Fundação Teixeirinha, que acaba de receber o patrocínio da Petrobras por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura para a organização e resgate de todo o material artístico do músico, que morreu aos 58 anos, em dezembro de 1985.

“Para nós, é um momento histórico dentro da fundação”, comemora Betha Teixeira, filha do cantor e compositor e conselheira da instituição criada em 1999. “A partir de agora, este patrimônio está catalogado. Os interessados terão acesso e poderão fazer suas pesquisas, além de podermos abrir o espaço para visitas guiadas”, destaca Betha a respeito da fundação, localizada no Centro de Porto Alegre. O local guarda troféus, vestimentas, objetos pessoais, figurinos, discos, livros, roteiros de filmes, cartazes das obras cinematográficas, manuscritos, instrumentos musicais utilizados pelo compositor e um total de quatro mil fotos que retratam a vida e obra do Teixeirinha.

Além disso, hoje, a partir das 19h30min, em um evento fechado no Espaço Itaú de Cinema, também serão lançados em DVD todos os 10 filmes produzidos pela Teixeirinha Produções, entre eles, Ela tornou-se freira (1972), Teixeirinha a 7 provas (1973), Carmem a cigana (1976), Meu pobre coração de lutoA filha de Iemanjá (1981). Coração de luto (1966), produzido pela Leopoldis Som, e Motorista sem limite (1969), por Itacir Rossi, não estão inclusos.

Cada obra terá mil cópias, que serão comercializadas pela fundação. Em contrapartida, a Petrobras ficará responsável pala distribuição de 100 cópias de cada um dos dez filmes. “O fã do Teixeirinha quer a coleção, e essa era uma demanda a que não conseguíamos atender. Os filmes que circulavam em DVD eram piratas”, lamenta Betha. A previsão é de que em dezembro os filmes já estejam disponíveis para venda no site da instituição (www.teixeirinha.com.br).

Durante a conversa com a reportagem, entre uma lembrança e outra, a diretora-executiva da fundação e também filha do artista, Márcia, deixa de se referir a Teixeirinha, o artista, e passa a adotar o termo familiar, pai, o que logo faz seus olhos banharem-se em lágrimas. Mais nova das quatro filhas do casamento com Zoraida Lima (o ídolo teve nove filhos, ao todo), Márcia era considerada o “alfinete de peito” de Teixeirinha, tamanho seu apego a ele. “Eu sofria muito com a falta dele. Por isso sei todo o repertório do meu pai, já que eu matava a saudade ouvindo suas músicas. Eu montava a minha casinha de bonecas bem próxima à janela dele para poder ouvir o que ele estava escrevendo e cantando. Ele, sabendo que eu estava perto, logo me chamava para mostrar o que tinha feito”, conta Márcia.

Lembranças resgatadas da memória são muitas, como as vezes em que a filha mais nova assistia aos filmes de Teixeirinha das 14h às 20h, no Cine Vitória, e os conselhos dirigidos às filhas em vida e em uma gravação de fita cassete deixada a elas. Betha conta: “Ele era muito exigente com ele mesmo e com a gente, tinha um grande respeito e gratidão aos seus fãs. Tanto que, no final da vida, em um dos últimos shows que fez, pedimos que ele não fosse. Mas, com o atestado do médico no bolso, disse: ‘Eu não posso faltar. As pessoas estão esperando por mim.’” 


Um desbravador do cinema 

Já naqueles longínquos anos 1970, Teixeirinha assumia um perfil artístico, denominado hoje multimídia. Ele foi compositor, cantor, ator, radialista e produtor. Mas poucos reconhecem que foi, além da música, o cinema sua grande contribuição. “Teixeirinha é o responsável por criar uma escola de cinema no Rio Grande do Sul”, afirma o diretor de fotografia de grande parte dos filmes do cantor Ivo Czamanski. “De todos os cineastas que temos aqui, ninguém fala do Teixeirinha como referência.”

A professora de mídias audiovisuais da Fabico (Ufrgs) e pesquisadora de cinema brasileiro Miriam Rossini também destaca a importância de Teixeirinha no cenário da sétima arte. “Mesmo contestado, o cinema dele deu início à produção em longa-metragem no Estado, ajudando a criar aquilo que chamo de uma ‘ambiência cinematográfica’, o que impulsionou outros projetos. Até 1974, ocupamos o posto de terceiro produtor cinematográfico brasileiro”, explica Miriam.

Fonte! Chasque de Priscila Pasko, publicado nas páginas do Jornal do Comércio, na edição do dia  06 de novembro de 2012. Retrato de Marco Quintana a/ JC.

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