quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pelo Dia do Padeiro ! ! !

Me lembro bem das noites frias de serenatas que fazíamos em Uruguaiana, quando depois de visitar nossos homenageados e homenageadas, com música na janela e outras na sala, voltava-os de a pé para casa, e nos acompanhavam os cuscos e os ruídos do sapato nos pedregulhos, delatadores dos passantes da madrugada.

E para o encerramento com chave de ouro de cada noitada de seresta, o último tema, era sempre na padaria onde trabalhava o Nego Hugo, tio do Cezar Passarinho, grande mestre de bateria, passista, cantor e violeiro, que nos tapava de pão quentinho enquanto cantava uns sambas para nós, todo de branco da roupa e da farinha. Ele também era mestre do forno e da massa, assim levava a vida ou ainda leva, na noite, cheio de energia fazendo pão e cantando samba.

Vocês que me leem, imaginem que enquanto dormimos, outras almas estão de pé, fazendo o mundo girar, preparando o que vamos precisar no amanhecer e o padeiro é um desses, vira noite, vira massa como um pedreiro no dia.

Mas bem antes de ser pão, a farinha que vem do engenho, foi grão, que foi planta, que foi semente jogada ao solo fecundo da terra onde os arados fizeram sulcos, outrora puxados a boi, hoje por centenas de cavalos dos tratores, ontem transportados por carroças, carretas, hoje por caminhões, que levam até o comércio e de lá para a padaria, onde a farinha vira pão que merecia ir a todas ás mesas, inclusive do humilde padeiro.

Sinto agora o cheiro sadio do pão quentinho, salivo o gosto do pão francês, do pão cabrito e da bolacha dobrada das padarias da minha juventude que o padeiro me marcou. Quando amanhecia, já se via nas ruas as carroças distribuindo aos bolichos nosso pão de cada dia, alguns padeiros, com cestas de vime na bicicleta, saiam ofertando o seu produto, com o mesmo amor que se oferece uma hóstia.

No dia oito cara de biscoito, é o Dia do Padeiro, que viva vamos dar a esses que não dormem para que a cidade de manhã cinta o prazer do gosto da terra ao mastigar o sagrado pão que é alimento, que é fartura, que é vida em todos nós.

Eu não sei quem foi o teu padeiro na infância, na juventude ou agora, mas sei que o meu foi o Nego Hugo, que saúdo com o mesmo amor que ele dedicava aos pães e a nós, nas madrugadas quentes e frias de Uruguaiana.

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Fonte! Coluna Regionalismo nº 510, por Dorotéo Fagundes de Abreu, do dia 10 de julho de 2012. 

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