sábado, 24 de agosto de 2019

Causos de Campanha (39)! As Doze Badaladas!

Existem mistérios que jamais serão descobertos
 
Era noite na estância do Cerro do Sossego, Julho de 1880, perto de Bagé Coronel Quincas dormia na beira da lareira que com dois tocos enormes, tinha duas chamas dançarinas trepidantes e se entrelaçando e sobre o peito do coronel um livro aberto.

Alguém chegou passo a passo, fez a volta na cadeira, Coronel dormia, então pegou vagarosamente o atiçador de brasa em forma de arpão na ponta, fez a volta pelas costas do coronel e levantou o ferro sobre sua cabeça e desceu sobre a nuca de Quincas, um crime cruel como o coronel. Neste momento o relógio da sala deu DOZE BADALADAS, era meia noite, depois disso o relógio parou sinistramente seu TIC TAC exatamente a meia noite.

Chegou numa carruagem o inspetor Machado, um policial, o médico e um caixão, o corpo estava enrolado num lençol manchado de sangue, foi colocado na adega, o inspetor examinou, viu a profunda ferida na nuca, depois foi até a lareira, examinou todos os ferros não havia sangue em nenhum deles mas a empregada Maria disse que o atiçador estava no meio das brasas. Então ele viu que aquele instrumento era o artefato. Colocou na sala todos os suspeitos:

A segunda esposa Ana Maria mais jovem vinte anos, a filha Herminia, o genro Talles, o filho Antonio, a Nora Filomenna, a empregada Maria e o capataz que era amante de Ana Maria.

Um deles matou o Coronel, já que a estância era enorme, abrigava dez mil cabeças de gado e naquele fim de mundo na casa grande aqueles é que estavam presentes na hora do crime.

A empregada Maria falou que o relógio tocou 12 badaladas e parou inexplicavelmente, mesmo estando com toda corda.

Ele pifou exatamente a meia noite, hora que o médico disse que o crime ocorreu, pelo estado do corpo.

O enterro foi no cemitério da família, poucos vieram, Cel. Quincas era um homem taciturno, isolado em seu mundo, sarcástico e irônico, não se viu nenhum dos familiares chorando.

O inspetor abriu inquérito, não era fácil achar o criminoso, pois todos tinham um álibi. A esposa disse que estava com Maria na cozinha na hora do crime, Tales dormia com Hermínia, o filho Antonio dormia com Filomena o capataz dormia no seu quarto no galpão o que foi afirmado por Maria e Ana.

A SEIS MESES ATRÁS:
 
Voltando no tempo
 
Há nove léguas dali, Coronel Quincas chegou na Estância Santa Inácia combinou uma viagem até as Charqueadas de Pelotas com seu lindeiro e compadre Afonso, era uma tropa enorme, cerca de 2000 cabeças, metade de cada um, era uma viagem longa e partiram com muitos peões, na volta dispensaram os vaqueiros e vieram os dois junto com o capataz José por um atalho nos cerros de Caçapava, onde tinha uns peraus enormes, precipícios profundos, Afonso olhou o céu e a posição das estrelas e disse para o Coronel:

- É meia noite compadre, vamos acampar aqui e descansar os cavalos, fazer um carreteiro.

Ao se virar recebeu um tiro de garrucha na cara e caiu morto do cavalo. Coronel pegou o ouro, amarrou o corpo do compadre Afonso no cavalo levou até a beira do precipício e matou o animal que rolou ribanceira abaixo. Quincas era um homem avarento, fascinado por ouro, odiado por todos, cruel e mesquinho, mal querido pelo filho e pela filha, pela própria esposa.

Voltou e chegou na sua estância. Todos da estância sabiam que ele trazia dois sacos pesados de ouro, pois chegou e jogou-os encima da mesa da sala mesa forte feita de guajuvira, o tilintar do ouro aguçou os ouvidos de todos. Ele então se foi para o quarto e fechou a porta.

A PROCURA DO PAI:
 
Maneco veio em busca do pai, foi direto falar com o Coronel Quincas, perguntou pelo seu pai:

- Olha ele quis ficar lá por mais uns dias, Pelotas tem muito cabaré e ele se assanhou eu o José viemos sozinho.

- Meu pai não é disso Coronel, como ele iria para um bordel com todo aquele ouro, meu pai não é tolo.

- A gente vai ficando velho e começa a fazer bobagem, vai ver ele aparece, ou então se apaixonou por uma chinoca nova. Fica tranquilo, quando vê ele aparece.

Maneco foi embora, sem aceitar aquela história, seu pai era um homem sério, responsável. Lamentava-se por não ter ido com ele.

DEPOIS DA TRÁGICA MORTE DE QUINCAS:
 
Todos vasculharam a casa, em busca do ouro, era um homem avarento, depois de dias nada foi encontrado para desespero de todos, o filho Antonio procurar um Baú, ele quando pequeno viu ele com 3 cadeados.

Porém um fato estava abalando a família. O RELÓGIO todas as noites exatamente a meia noite dava doze badaladas, e quem fosse lá ver, o pêndulo estava parado e o forte TIC TAC não existia, o relógio estava estragado. O fato foi deixando todos nervosos porque todos acordavam de repente em seus quartos com as doze badaladas.

A família se reuniu e resolveu vender o relógio para uma loja de objetos usados na cidade. O pesado relógio de madeira maciça então foi colocado numa carroça e foi até a estação de trem, de onde partiu para a cidade de Bagé.

ONDE ESTÁ O OURO:
 
Finalmente na adega, atrás de dois barris encontraram o velho baú, amarrado com duas pesadas correntes e três cadeados grandes, um ferro enorme enterrado na parede prendia o baú para que não fosse roubado, Ana Maria e os outros herdeiros festejaram, tinham certeza que ali estava todo o tesouro, juntado por anos, não acharam a chave, mas arrombaram com machadadas os três cadeados, ao abrir, só tinha a farda de coronel, duas adaga, uma faca espada, as garruchas e as medalhas e honras da guerra do Paraguai. Antonio e o resto do pessoal voltaram a estaca zero.

NOS CERROS DE CAÇAPAVA:
 
Um comerciante que vendia xaropes, remédios caseiros e rolos de fazenda, que morava em Pelotas se apaixonou pelo velho relógio na loja de usados, pois não foi difícil comprar já que este estava estragado, então carregou o pesado Relógio de madeira de lei na carroça amarrou com cordas e rumou para Pelotas.

A carroça seguia, para pegar um atalho cortou por dentro da serra, pois conhecia o terreno, era mais arriscado, mas diminuía em um dia a viagem. Pois o céu ficou tenebroso pelas bandas de Bagé e grossas nuvens vinham rolando pelo céu como uma boiada em disparada, riscos de relâmpagos chicoteavam o horizonte negro e o barulho no descampado ecoava nos vales e serras multiplicando o medo, nisso um raio cai encima do relógio, jogando o vendedor longe e cavalo dispara, a carroça sai em disparada e despenca no perau, terrível abismo com uma queda de mais de cem metros.

MANECO NÃO DESISTE:
 
Maneco sonhava com seu pai, acordava com doze badaladas de um relógio, num dos sonhos seu pai com as mãos cheia de ouro sorria para ele, mas depois começava a chorar o ouro se transformava em sangue e ele ia se desmanchando até virar pó,desta vez Maneco acordou assustado, suando ouvindo doze badaladas.

Então resolve ir em busca do seu pai, se foi para Pelotas, para encurtar o caminho, cortou a serra de Caçapava.

Numa tarde ensolarada ao passar pelo perau, ouve as badaladas de um relógio distante, pára o cavalo, o vento sopra e as badaladas se repetem, chega na beira do precipício e avista lá embaixo uma carroça, os cavalos mortos. Fez a volta descendo as encostas e cerca de duas horas depois chega lá embaixo.

No galho de uma árvore, o pêndulo do relógio com os martelinhos, quando o galho sacudia com o vento ele badalava, viu quatro cavalos mortos, mais adiante viu uma ossada amarrada a um esqueleto de cavalo, comido pelos corvos, pela camisa reconheceu seu pai.

Entre lágrimas, rezou pelo velho amigo e companheiro, um pai que ensinou-lhe a honra e a palavra de um homem, pensou na dor de sua mãe e dos seus filhos quando souberem.

Ele merecia um enterro decente, mas não tinha pá, porém muitas pedras, então fez um túmulo de pedra, ao retirar pedras de todos os cantos, precisava de uma cruz, avistou uma grande caixa de madeira toda quebrada, a princípio pensou se tratar de um caixão, ao chegar perto viu que era o relógio, muitos sacos de ouro em seu interior e espalhados pelo chão, era muito ouro, o grande relógio era oco, por isso pesado, carregava todo o ouro do Coronel.

Maneco se tornou um dos homens mais ricos da região, astucioso para os negócios, já os herdeiros da Velha Estância Cerro do Sossego perderam o Sossego, muitas brigas na divisão da imensa fazenda, vagarosamente foi ficando só campo, bois eram vendidos e o dinheiro gasto de forma irresponsável gerou a falência.

Fortunas desaparecem rápido, quando mais se tira do que se bota,não tardou Maneco ir comprando devagar parte por parte.

Não sei quem matou o Coronel, nem a Polícia descobriu, mas a minha pergunta é: Quem tocava as badaladas do velho Relógio na estância?
 
Afinal os dois morreram a MEIA-NOITE.
 
Fonte! Chasque de Beraldo Lopes Figueiredo, publicado no Sítio Facebook (compartilhado no sítio Facebook Rio Grande Antigo. Abra as porteiras clicando em https://www.facebook.com/beraldo.figueiredo

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