Buenas Gauchada!
Tenho
andado com a mirada mais gaviona e minha tenência mostra que, em cada ano que
passa, a coisa fica mais esfarrapada que poncho de calavera.
Pois
olha, tchê! Eu acreditava no Véio Noel.
Quando
gurizito, o fuzuê natalino era quase abstrato, no máximo uma Folia de Reis e os
fogos do Ano Novo, quase palpáveis, explodiam a um palmo das minhas fuças,
quando um tronco de guajuvira, crepitava no fogo de chão, levantando fumaça,
que subindo, acendia os candieritos no céu de picumã que preteava a quincha do
galpão.
Bueno,
hoje ainda acredito no Noel Véio, mesmo que o natal seja mais concreto que
nunca, empotreirando a alegria do festerê como se a felicidade, para existir de
verdade, pudesse, a cada vez, se transmutar em mais arranjos, mais aparatos,
mais luzinhas, mais enfeites, mais panetones e mais e mais...
O
que ficou mui pertito do abstrato foi o sentido do foguetório, do buzinaço, da
algazarra, da gritaria e da comilança alucinada, que embretou minha alma
gaudéria, a ponto de quase me fazer olvidar que se comemora não o aniversario
do Véio Noel, mas sim, o nascimento do Divino Piá.
-
Mas báh, que rescaldo tchê! Agora devolve a cuia pruque a roda du mate tá
imperrada.
-
Desculpe, Eleutério, acho que tô ficando velho.
-
Véio!? cosa ninhuma. Issu qui naum falaste na gastância inzagerada qui uns
fazim só prá mostrá qui teim mais pataca na guaiaca, u qui pode dá entrevero
entre us parente.
-
Porque estás dizendo isso, parceiro?
-
É qui me alembrei dum acontecidu, quanu inda carretiava, na costa do Cuaraim.
Lá,
no Quarai, ainda hoje vive um estanciero podre de rico, qui gosta de mostrá qui
teim capim prá queimá. Todu ano ele compra presente de úrtimo grito prá dá prus
fío.
Pos,
im dois mil i dez, u tal du fazenderu, andava contrabandianu im Artigas. Foi na
Avenida Lecueder, na Loja Neutral i comprô a maior novidade na época: u tal
Aipode.
Nu
premero fim de semana us piá forum prá istância i mostravum us presente qui
tinhum ganhadu de natal.
Lá
na istância, morava um primo, qui us fíu du fazendero chamavum de grosso,
pruque morava nu campu i naum na cidade, qui neim eles.
De
noitezita, inquantu a pionada matiava, na volta du fogu de chaum, u guri da
cidade, inticanu, i loco prá se inzibi pro
piá campero, falô:
-Ô
grosso! Viste u baita du apareio qui eu ganhei?
-
Claro que vi, tchê! U qui é aquilu?
-
Intaum tu nãum cunheci? É um aipode.
-
Mas báh, tchê! Buenacho uma barbaridade.
-
I tu, grosso, ganhaste alguma cosa?
-
Tamém ganhei um aipode.
-
Mas como? Teu pai é pobre i naum tem plata prá compra um aipode.
-
Foi a prima, tua irmã, qui mi deu.
-
Ué, minha irmã te deu um aipode?
-
Sim, foi inda agora de tarde. Despos da bóia, Eu me mandei lá pru açude du
lagiadu, prá tomá um banhu i me refrescá desse caloraum.
Comu
nunca teim ninguém pur pertu, saquei us calçaum i fiquei pe-laditu, no más.
Já
fazia um tempinhu qui eu tava nu açude quanu me aparece a prima.
Anssim
qui ele mi viu peladu, sacô toda a ropa, ficanu pelada e tamém acabô si infianu
nágua.
Fonte! Chasque Charla de Peão da semana passada - especial para todos os pais do Rio Grande e de toda esta terra em redor que chamamos de mundo, por Juarez Cesar Fontana de Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS), publicado no Jornal Regional do Comércio. Contatos: juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br
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