Há
muitas especulações sobre a origem da palavra GAÚCHO, mas infelizmente ninguém
a decifrou definitivamente, continua o mistério. Porém, ser GAÚCHO, todos os
pesquisadores que se interessaram pelo tema concordam, não é uma raça, é uma
estirpe a partir de uma atividade socioeconômica com características próprias,
um ser miscigenado, remanescentes de tribos guerreiras que habitavam a
Argentina, o Uruguai e o Brasil no Rio Grande do Sul, nômades, hábeis cavaleiros,
extremamente valentes, desprendidos de tudo, inclusive da vida, valorosos,
leais, hospitaleiros, ocupados ora com a lida pastoril, ora com a vida militar
em postos que iam do soldado raso a general. No entanto, somam-se nessa
resultante biológica todas as demais etnias que acamparam no cone sul americano
nos dois séculos, formando gaúcho de agora que atavicamente apresenta
comportamento psicológico desde a vocação agrícola do tape, a agressividade do
charrua e do minuano, a paz espiritual do guarani, ao aventurismo bandeirante.
O
primeiro registro da palavra GAÚCHO em português foi em 1787, escrita no livro
do Dr. José de Saldanha, o que prova sua existência muito antes, pois a
denominação de um padrão cultural leva anos a se formar. Em 1536 foi
introduzido o CAVALO de hoje na América do Sul, espalhando-se a partir de 1580,
tornando-se o pampa seu melhor abrigo. Coincidência ou não, foi nessa época que
surgiu o gaúcho primitivo chamado de moços perdidos de Buenos Aires, logo
changueadores, gaudérios, avessos a urbanidade, de culto à liberdade,
refratários à lei dos homens e a qualquer modo de vida que não fosse nas
imensidões dos campos, onde desenvolveram grande habilidade de domar cavalos e
lidar com gado.
Assim
podemos dizer que o CAVALO e o GADO vieram primeiro que o gaúcho e que se esses
não existissem, os homens do pampa seriam qualquer coisa menos gaúchos. A
miscigenação do europeu com o índio, fundindo a cultura ibérica com a
sul-americana, fez chegar até nossos dias, além do ser, o churrasco, o
chimarrão, a música, os payadores, a poesia gaúcha culta e rica, tanto que
ligado ou não à vida do campo temos gente compondo e fazendo poesia ou a
lembrar da vida do gaúcho passado a suas bravatas.
Marco
Aurélio Campos, autor da frase que, a meu ver, retrata com pureza todo o
sentido espiritual e material desse ser miscigenado e independente, escreveu:
“Eu sou gaúcho e me chega pra ser feliz no universo”; não tratava de
prepotência e sim de alguém definido, resolvido no mundo.
Para pensar: Defino que para ser gaúcho
modernamente não precisa ter nascido na região do Prata continentino, basta o
indivíduo ter no peito um estado de espírito permanente de amor á terra e á
liberdade: assim já é GAÚCHO.
Fonte! Coluna Regionalismo por Dorotéo Fagundes de Abreu, do dia 04 de março de 2014.
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