Buenas Gauchada!
- Ô Eleutério! Esta semana nós
vamos preparar o galpão para a festa de São João, já que estamos quase saindo
de julho e eu ainda não fiz a fogueira que prometi prá piazada.
- Indio véio, tu sabia que nas
festança das invernias de junho, não é uma, mas três fugueras e que cada uma
delas tem um jeito, vivente!
- Tu tá louco, tchê! De onde
tiraste esta história?
- Pos óia! É a más pura das
verdade. Pur inzemplo: a fuguera de Santo Antonho é acesa no dia treze de
junho. Começa com premera camada feita com quatro tora deitada - fazendo um
chiquerinho - o que se chama de Pé Quadrado. E adespos ela sobe, no mesmo
formato, intercalando uma camada com outra, inté completá uns trinta a quarenta
degrau.
Já, a fuguera de São Juão, tem
que se acende no dia vinte e quatro de junho e nem é feita de camada. Premero
vai o mastro mestre, que mede de vinte a trinta metro, e despos, em volta do
mastro mestre, num formato de roda, vai se encostando as trama de dois a três
metro, despos se coloca, em volta das trama, os pontalete, de más o menos cinco
a seis metros e por volta de todos se encosta as tora de dez metro prá cima,
completando a roda, que é chamada de Pé Redondo.
Pru fim, tem a fuguera de São
Pedro. Essa fuguera é acesa no dia vinte e nove e junho e é montada do mesmo
jeito que a de Santo Antonho, mas invéis de quatro tora, se deita só trêis,
fazendo um triango - É purisso que se chama de Pé de Bico - que tamém sobe inté
completá trinta ou quarenta camada.
- Barbaridade, tchê! Não é que tu
sabes mesmo. Onde aprendestes tudo isso?
-Numa olada fui arigó, num
arrozal, nas várzea de Rio Pardo, na granja da Família Wunderlich. Lá, Impecei
em novembro, como taipero prá inquilibra a aguada do arroz e fui trabaiando até
junho, já como chiripa, que é aquele que auxilia na coieta do grão.
Terminada a coieta do arroz, fui
changueá em Ramiz Galvão, na Aldeia de São Nicolau. Lá aprendi sobre as
fuguera, quando me acostei de cambitero, levando cana da lavora até a moenda,
prá fazê cachaça, melado e rapadura. Por lá fiz miles de rapadura.
Chegando a cana da lavora, se
limpava ela e mandava prá prensa, prá tirá o caldo e fazê a garapa. Cum o
bagaço da cana nóis alimentava a fornaia, que num tacho – o parol - fazia a
garapa fervê. Inquanto a garapa fervia, de quando em vez, nós passava a
espumadera prá retirá a espuma da fervura e fazia a mexedura inté a garapa se
transformá num melado.
A mexedura se fazia inté a
cristalização, quanu a massa, ainda molenga, era derramada num gamelão de três
metro de comprimento, por sessenta centímetro de largura e trinta centímetro de
altura, prá começá o resfriamento inté a hora de botá nas forma.
Nas forma - que são ripa de
madera, formando um quadrado de um metro de comprimento por dois centímetro de
altura, cum deiz divisória interna – se deitava a massa cristalizada inté o
ponto da rapadura, que se alcançava com, más o menos, uma hora de enformação.
Despos se desenformava, virava de
lado prá seca e táva pronta a rapadura que ia sê vendida na Festança Junina do
Colégio Elementar, que ficava a uns cinco o seis quilômetro da Aldeia.
Nessa festa as fuguera erum acesa
no terreno baldio, ao lado do sobrado do Colégio e em frente da casa da Dona
Quininha, vendedora de jogo de bicho e costurera nas hora vaga.
Como acontecia todo us ano, nas
festa de São Juão, vinha prá casa da Dona Quininha a Dinorá, afiada da dita
Quininha que, carinhosamente, chamava ela de Norica.
Bueno, a Norica era moça que
morava na roça. Mesmo sendo muito bunita, ainda tava sortera, sem um cambicho e
quase sorterona. Tinha fama de muié trabaiadera - dizem que passava no cabo da
enxada ou fazendo a lida de campo - e como andava sempre imbodocada no lombo
dum cavalo, só usava bombacha.
Pos, a Dona quininha, madrinha da
Norica, priocupada cum a sorterice da afiada, arresorveu que, naquele ano, ia
fazê uma simpatia prá o Santo Antonho dá um jeito na situação da sorterice da
moçoila, já que ele era santo casamentero.
Prá começa o entrevero, a
custurera foi na Casa Rio e compro pano de chita prá fazê um vestido lindote
prá prenda. Despos do vestido feito, Dona Quininha passou a mão no Santo
Antonho, tirou o minino Jesus do colo dele, dexo ele virado prá parede e disse
que só entregaria o Jesuzinho quando a Norica se enrabichasse num peão.
No dia da festa a Norica pego a
se imbelezá. Fêz uma trança nas clina, passo carmim nus beiço, meteu água de
chero no suvaco e não se isqueceu de botá uma gotinha atrás da oreia, infiou o
vestido e aí se alembrô que não tinha trazido as ropa intima.
A Dona Quininha não se apertô,
como era custurera curtida foi na venda do Seu Maneco e pediu um saco branco.
Voltô, deu umas três o quatro tesoradas, meteu a mão, mais uma veiz, na
manivela da máquina de custurá e dentro de um tempito a calcinha da afiada tava
nus trinque.
A Norica infiou a calçola feita
em casa e se mandô prá festa, mais gasguita que caturra verde se esbaldando num
milharal.
A festa tava animada. O piazedo
atirava rojão, buscapé e cabeça de nego e o poverio se alastrava no pátio. Uns
se impanturavum de pastel, pipoca, canjica, milho cozido, bolo de amendoim, pé
de moleque, bolo de fubá e claro, rapadura. Otros gastavum us pila nas barraca
de pescaria e mais otros se isganiçavum no leilão dum porco assado no rolete.
Inté tinha otros correndo cum us
pé infiado num saco de batata o intão cum um ovo de galinha garnizé,
inquilibrando numa cuié, que ficava infiada nus beiço dus vivente.
Áh! E o Fandango? Esse tava loco
de bem bom, tchê! Na gaita o Nego Beiço, no violão o Vadinho, no pandero o
Toveco, irmão da Vadinho e no Salão do Elementar, que era o térreo, a Norica,
sacudindo o recavém, as veiz com o chofer de praça, o Arão Marques e otras veiz
com o barbeiro Pulsério, saracoteava um Maçanico, a Cana Verde, u Pézinho i u
Balaio, isso sem falá nas valsa; vanera; vanerão; xote; milonga; bugio;
ranchera i chamamé.
Despos de tanto fudunço, a Norica
tava cansada e arresorveu discansá. Passou a mão num cepo e como tava
acustumada a andá só vistida de bombacha, deu um puxão, prá riba, no vistido e
arreganhô as perna. Um cuera maleva, vendo aquilo i sem tirá os óio das perna
da moça, impeço a si ri. A prenda não gostô e foi prá cima do índio.
- Tu para de te fresquiá,
borracho veio. Nunca viste uma calcinha de muié?
O borracho dá uma resfungada, e
destramela a lingua: - Óia moça, vê carcinha de muíe inté eu já vi umas, mas
iscrito "ração pra pinto" é a premera veiz.
Bueno, tchê! Como a tramóia acabo
eu não sei, pos me mandarum abastecê a barraca e eu me mandei lá prá dentro e
fiquei, solitito no más, empaiando a rapadura.
Fonte!
Coluna Charla de Peão, por Juarez Cesar Fontana Miranda (poeta
nativista), publicada no Jornal Regional do Comércio, dos pagos da
cidade litorânea de Cidreira (RS), edição desta última semana de julho de 2014.
Contatos com o colunista, mande um chasque abagualado para juarezmiranda@bol.com.br
ou jornaljrcl@terra.com.br
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