sexta-feira, 16 de maio de 2014

FALQUEJANDO O GUATAMBÚ ! ! !

Buenas Gauchada!
- Ô Eleutério, solta esse copo de canha, tchê!
- Tu já esparramaste a creolina no galpão? Não, né? Entonces, tá esperando o quê?
- Daqui a um poquito chegam os parceiros da Charla de hoje e nem o mate tá pronto. Mas que changueiro eu fui campeá, hem?
O Eleutério me disse que não havia passado a creolina e nem tinha varrido o piso do galpão porque a vassoura de guanxuma tava com o cabo quebrado.
- Bueno, por lo menos deste uma ajeitada no fogo de chão?
- Mas bah! Patrão, se dei! E o chimarrão, também, já tá na mão. Cevei com a erva da “Parmera”. Aquela que tu gosta bastante e que já tá no fim.
E, gambeteando mais que avestruz corrido, ainda me sai com essa chasqueada: ah! Vê se não serve prá gauchada aquela cachaça com mestruz. Eu exprimentei agorita mesmo e ela ainda não tava bem curtida, viu, tchê?!
- Tá Bueno! Entonces te manda, prende a guaipecada e vai lá abrir a porteira que a peonada já tá chegando.
- Buenas parceiros! Vão se chegando. Apeiem, desencilhem, prendam a soga dos fletes no cavalete da frente e depois venham pro galpão, prá dar uma mateada.
Desta vez, vieram pra Charla o Paulo Roberto Vargas e o Valdemar Engroff que se acolherou com Valmir Gomes, prá entrar na roda do chimarrão.
O Paulo Vargas, um dos maiores declamadores da poesia xucra que eu conheço, está coordenando o 2º Sinos do Verso Gaúcho e vem prá Charla avisar a gauchada que quer concorrer, prá mandar suas poesias até o dia 1º de junho de 2014.
As obras poderão ser enviadas, via correio, para a sede do CTG Tapera Velha, na Rua Arno Schuch, 487, Bairro Vicentina, CEP 93025–410, São Leopoldo/RS; via e-mail, para o endereço: sinosdoversogaucho@hotmail.com ou via galpão virtual, no endereço www.facebook/Ctgtaperavelha.versogaucho@hotmail.com, onde, também, poderão obter informações mais detalhadas sobre o evento.
O Valdemar Engroff, do Sitio do Gaúcho Taura e apresentador do Programa Gritos do Quero Quero, na Rádio Acácia FM, de Alvorada, um dos tauras mais useiro e vezeiro nas nossas mateadas e o maior quero-quereador da minha coluna, vem me avisar que a Charla foi contrabandeada e agora também está sendo replicada, lá prás bandas dos pagos do Rio de Janeiro.
Com essa gauchada do parceiro Valdemar, eu já tô me achando. Não fiquem surpresos se qualquer dia desses o Obama – aquele que é o Patrão do CTG Americano – não me aparece na Charla prá dá uma mateada.
O Valmir Gomes, que anda encangalhado com o Valdemar como junta de boi manso, é o chibeiro que contrabandeou a Charla pros lados do torrão carioca.
Este vivente, que leva a minha coluna na garupa, é o criador do site o Cariúcho. É um carioca, descendente de nordestinos, mas com alma de um cuera gaudério, que se enrabichou pelo Rio Grande do Sul ao desenvolver uma pesquisa universitária sobre a cultura gaúcha.
- Muchas gracias, parceiro.
O Eleutério, que já andou fazendo trama com o Valdemar, me avisou que numa das próximas Charla vai contar uns causos, acontecidos com o Cariúcho, nos fandangos da querência.
Bueno, prá não sair do trote da tropilha, preciso confessar prá vocês que eu não tinha ideia da abrangência alcançada pela coluna, mesmo sendo eu o maior interessado em, por meio da Charla de Galpão, espraiar um pouco da cultura gaúcha.
Pois me caíram os butiás do bolso da bombacha quando recebi um chasque dos alunos que cursam o 4º ano da EMEB Barão do Rio Branco, que fazendo um estudo sobre diversidade cultural, querem saber por que, entre outros habitantes do Brasil, o mineiro usa na sua linguagem típica o termo uai, o pernambucano diz ó xente e o gaúcho fala tchê.
No chasque, a piazada diz que, chuleando nos potreiros da internet, deram de costados com o meu texto. Acharam os meus escritos abagualados e cheios de tchês e por isso resolveram me pedir uma explicação sobre o uso dessa expressão linguística que caracteriza o povo gaúcho. 
Metendo Quirela nos Pintos
Pos óia só, gurizada, o Eleutério, mais ligeiro que cachorro galgo, foi assuntá sobre a chusma com um grande parceiro e colaborador da Charla – o Hilton Araldi - tradicionalista dos mais autênticos e estudioso dos assuntos que tratam de questões gauchescas.
Despos da prosa com o Araldi, o Eleutério explicou que o jeito de falar de cada povo é uma “cosa” muito mais antiga do que ele e que até na bíblia sagrada existe trama sobre o falatório das gentes.
Diz que na época de Cristo, os sacerdotes que não iam com a cara Dele, descobriram que Ele tinha um capataz – O Pedro. A tenência veio porque os dois tinham os mesmos cacoetes no sotaque dos que moravam na Galiléia e eram conhecidos como galileus.
Também, lá pros lados da “Oropa”, muito tempo antes da descoberta do Brasil, o latim, que era a língua dominante, tava mais misturado com o português e o espanhol do que poeira em surungo de china barranqueira.
O poverio que falava essas línguas era muito religioso e os padres, que na época mandavam mais que mãe de rapariga na casa do genro, falavam a missa na língua oficial da igreja católica – o latim, dessa forma, o jeito de falar dos padres passou a fazer parte do linguajar desse povo, que um dia veio a dar com os costados no nosso pago.
Entonces, quando um cuera saia do chinaredo, a pinguancha se despedia dele dizendo: “vá com Deus”; O castelhano calaveira, jogando a tava, antecipava a jogada gritando suerte, fazia o sinal do Padre Nuestro no peito e dizia “queira Deus que isso aconteça” ou então quando o português chegava em casa de madrugada, dizia prá patroa que agorita no más tinha saído da missa. Como ela, lógicamente não ia acreditá, ele já completava: “juro por todos os santos que estou a falaire a mais pura verdade”.
A mesma coisa acontecia quando um gaudério queria falar com outro. Ele lascava: “ô vivente do céu, como tu vai?”; ou a mãe ralhando com o filho: “guri de Deus, tu para de fazê arte ou te dô um mangaço no lombo” e assim, essa lenga-lenga se bandiô prô dia a dia, tanto que até hoje, muita gente da campanha ainda fala deste jeito.
Pos, quando os europeus fizeram a América de potreiro, trouxeram uns padres espanhóis prá amansá a indiada. Esses padres, quando falavam o latim, chamavam os índios, e também os animais, de “caelestis”, que se pronuncia como “tchêlestis” e que tanto pode significar “do céu” como “de Deus”.
Entonces a indiada aprendeu que a expressão “tchêlestis” servia para identificar cada um deles, mas como era mais preguiçosa que lagarto em lageado, encurtou a palavra e quando levava um cagaço e na hora do sufoco apelava prá Deus ou quando queria entabulá uma charla, falava apenas tchê!
Quando os índios, que andavam mais enredados que tripa grossa na brasa com a peonada – paisanos uruguaios, vaqueanos argentinos e gaudérios sul brasileiros, queriam falar usavam o tchê para chamar o outro.
Assim, o hábito de usar a expressão passou dos índios, se esparramou entre uruguaios e argentinos, que falavam o espanhol, sendo, então, absorvido, também, pelos campeiros do sul, que falavam o português e que contrabandearam o costume do “tchê” para a sua forma de falar.
Por isso, gurizada, quando tu ouvires um gaúcho te chamar de tchê, quer dizer que ele te considera como alguém “do céu”.
Que bom seria se, no mundo, todos se tratassem assim, não é mesmo, tchê?

Bueno, enquanto vocês ficam pensando no que disse o Eleutério, eu continuo aguardando mais chasques dos leitores e peço permisso prá me retirá porque tenho que fazer uma nova vassoura de guanxuma, já que a velha tá com o cabo quebrado. Entonces, prá fazê outro cabo, eu me fico por aqui, falquejando o guatambú.
Fonte! Coluna Charla de Peão, por Juarez Cesar Fontana Miranda (poeta nativista), publicada no Jornal Regional do Comércio, dos pagos da cidade litorânea de Cidreira (RS), edição do dia 15 de maio de 2014. Contatos com o colunista, mande um chasque abagualado para juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br. 

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