Buenas Gauchada!
- Ô Eleutério, solta esse copo de canha, tchê!
- Tu já esparramaste a creolina no galpão? Não, né?
Entonces, tá esperando o quê?
- Daqui a um poquito chegam os parceiros da Charla
de hoje e nem o mate tá pronto. Mas que changueiro eu fui campeá, hem?
O Eleutério me disse que não havia passado a
creolina e nem tinha varrido o piso do galpão porque a vassoura de guanxuma
tava com o cabo quebrado.
- Bueno, por lo menos deste uma ajeitada no fogo de
chão?
- Mas bah! Patrão, se dei! E o chimarrão, também, já
tá na mão. Cevei com a erva da “Parmera”. Aquela que tu gosta bastante e que já
tá no fim.
E, gambeteando mais que avestruz corrido, ainda me
sai com essa chasqueada: ah! Vê se não serve prá gauchada aquela cachaça com
mestruz. Eu exprimentei agorita mesmo e ela ainda não tava bem curtida, viu,
tchê?!
- Tá Bueno! Entonces te manda, prende a guaipecada e
vai lá abrir a porteira que a peonada já tá chegando.
- Buenas parceiros! Vão se chegando. Apeiem,
desencilhem, prendam a soga dos fletes no cavalete da frente e depois venham
pro galpão, prá dar uma mateada.
Desta vez, vieram pra Charla o Paulo Roberto Vargas
e o Valdemar Engroff que se acolherou com Valmir Gomes, prá entrar na roda do
chimarrão.
O Paulo Vargas, um dos maiores declamadores da
poesia xucra que eu conheço, está coordenando o 2º Sinos do Verso Gaúcho e vem
prá Charla avisar a gauchada que quer concorrer, prá mandar suas poesias até o
dia 1º de junho de 2014.
As obras poderão ser enviadas, via correio, para a
sede do CTG Tapera Velha, na Rua Arno Schuch, 487, Bairro Vicentina, CEP
93025–410, São Leopoldo/RS; via e-mail, para o endereço: sinosdoversogaucho@hotmail.com ou via galpão
virtual, no endereço www.facebook/Ctgtaperavelha.versogaucho@hotmail.com, onde, também,
poderão obter informações mais detalhadas sobre o evento.
O Valdemar Engroff, do Sitio do Gaúcho Taura e apresentador
do Programa Gritos do Quero Quero, na Rádio Acácia FM, de Alvorada, um dos tauras
mais useiro e vezeiro nas nossas mateadas e o maior quero-quereador da minha
coluna, vem me avisar que a Charla foi contrabandeada e agora também está sendo
replicada, lá prás bandas dos pagos do Rio de Janeiro.
Com essa gauchada do parceiro Valdemar,
eu já tô me achando. Não fiquem surpresos se qualquer dia desses o Obama –
aquele que é o Patrão do CTG Americano – não me aparece na Charla prá dá uma
mateada.
O Valmir Gomes, que anda encangalhado
com o Valdemar como junta de boi manso, é o chibeiro que contrabandeou a Charla
pros lados do torrão carioca.
Este vivente,
que leva a minha coluna na garupa, é o criador do site o Cariúcho. É um
carioca, descendente de nordestinos, mas com alma de um cuera gaudério, que se
enrabichou pelo Rio Grande do Sul ao desenvolver uma pesquisa universitária
sobre a cultura gaúcha.
- Muchas
gracias, parceiro.
O Eleutério, que
já andou fazendo trama com o Valdemar, me avisou que numa das próximas Charla
vai contar uns causos, acontecidos com o Cariúcho, nos fandangos da querência.
Bueno, prá não
sair do trote da tropilha, preciso confessar prá vocês que eu não tinha ideia
da abrangência alcançada pela coluna, mesmo sendo eu o maior interessado em,
por meio da Charla de Galpão, espraiar um pouco da cultura gaúcha.
Pois me caíram
os butiás do bolso da bombacha quando recebi um chasque dos alunos que cursam o
4º ano da EMEB Barão do Rio Branco, que fazendo um estudo sobre diversidade
cultural, querem saber por que, entre outros habitantes do Brasil, o mineiro usa
na sua linguagem típica o termo uai, o pernambucano diz ó xente e o gaúcho fala
tchê.
No chasque, a piazada
diz que, chuleando nos potreiros da internet, deram de costados com o meu
texto. Acharam os meus escritos abagualados e cheios de tchês e por isso resolveram
me pedir uma explicação sobre o uso dessa expressão linguística que caracteriza
o povo gaúcho.
Metendo
Quirela nos Pintos
Pos óia só,
gurizada, o Eleutério, mais ligeiro que cachorro galgo, foi assuntá sobre a
chusma com um grande parceiro e colaborador da Charla – o Hilton Araldi - tradicionalista
dos mais autênticos e estudioso dos assuntos que tratam de questões gauchescas.
Despos da prosa
com o Araldi, o Eleutério explicou que o jeito de falar de cada povo é uma
“cosa” muito mais antiga do que ele e que até na bíblia sagrada existe trama
sobre o falatório das gentes.
Diz que na época
de Cristo, os sacerdotes que não iam com a cara Dele, descobriram que Ele tinha
um capataz – O Pedro. A tenência veio porque os dois tinham os mesmos cacoetes
no sotaque dos que moravam na Galiléia e eram conhecidos como galileus.
Também, lá pros
lados da “Oropa”, muito tempo antes da descoberta do Brasil, o latim, que era a
língua dominante, tava mais misturado com o português e o espanhol do que
poeira em surungo de china barranqueira.
O poverio que
falava essas línguas era muito religioso e os padres, que na época mandavam
mais que mãe de rapariga na casa do genro, falavam a missa na língua oficial da
igreja católica – o latim, dessa forma, o jeito de falar dos padres passou a
fazer parte do linguajar desse povo, que um dia veio a dar com os costados no
nosso pago.
Entonces, quando
um cuera saia do chinaredo, a pinguancha se despedia dele dizendo: “vá com
Deus”; O castelhano calaveira, jogando a tava, antecipava a jogada gritando
suerte, fazia o sinal do Padre Nuestro no peito e dizia “queira Deus que isso
aconteça” ou então quando o português chegava em casa de madrugada, dizia prá
patroa que agorita no más tinha saído da missa. Como ela, lógicamente não ia
acreditá, ele já completava: “juro por todos os santos que estou a falaire a
mais pura verdade”.
A mesma coisa
acontecia quando um gaudério queria falar com outro. Ele lascava: “ô vivente do
céu, como tu vai?”; ou a mãe ralhando com o filho: “guri de Deus, tu para de
fazê arte ou te dô um mangaço no lombo” e assim, essa lenga-lenga se bandiô prô
dia a dia, tanto que até hoje, muita gente da campanha ainda fala deste jeito.
Pos, quando os
europeus fizeram a América de potreiro, trouxeram uns padres espanhóis prá
amansá a indiada. Esses padres, quando falavam o latim, chamavam os índios, e
também os animais, de “caelestis”, que se pronuncia como “tchêlestis” e que tanto
pode significar “do céu” como “de Deus”.
Entonces a
indiada aprendeu que a expressão “tchêlestis” servia para identificar cada um
deles, mas como era mais preguiçosa que lagarto em lageado, encurtou a palavra
e quando levava um cagaço e na hora do sufoco apelava prá Deus ou quando queria
entabulá uma charla, falava apenas tchê!
Quando os
índios, que andavam mais enredados que tripa grossa na brasa com a peonada –
paisanos uruguaios, vaqueanos argentinos e gaudérios sul brasileiros, queriam
falar usavam o tchê para chamar o outro.
Assim, o hábito
de usar a expressão passou dos índios, se esparramou entre uruguaios e
argentinos, que falavam o espanhol, sendo, então, absorvido, também, pelos
campeiros do sul, que falavam o português e que contrabandearam o costume do
“tchê” para a sua forma de falar.
Por isso,
gurizada, quando tu ouvires um gaúcho te chamar de tchê, quer dizer que ele te
considera como alguém “do céu”.
Que bom seria
se, no mundo, todos se tratassem assim, não é mesmo, tchê?
Bueno, enquanto
vocês ficam pensando no que disse o Eleutério, eu continuo aguardando mais
chasques dos leitores e peço permisso prá me retirá porque tenho que fazer uma nova
vassoura de guanxuma, já que a velha tá com o cabo quebrado. Entonces, prá fazê
outro cabo, eu me fico por aqui, falquejando o guatambú.
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