Buenas Gauchada!
Tchê, Eleutério, dá uma mexida no pai de fogo, tira
um pouco desse borralho, mete essa trama de angico nas brasas e encosta a
cambona no tição prá aquenta a água, enquanto eu vou encilhando a chimarrão.
Depois tu vai lá na cozinha e, no armário – na
prateleira bem de baixo – tu passa a mão naquela canha com butiá que eu
guardei, há mais de quarenta dias. Acho que já tá no ponto e hoje eu vou usar
um talagaço dela prá temperar a boia.
Ah! Não precisa abrir, viu? – Deixa que eu provo,
tchê!
Bueno, como eu ando correndo mais que lagarto no
lageado e meio enrolado prá dar conta da lida, tive que contratar um peão. Pois
acertei a changa com o Eleutério, que vai me dar uma mão, aqui no galpão.
Noutra olada eu conto prá vocês quem é o tal
Eleutério, tá bueno?
Agora vou dar uma espiada pras bandas do corredor, prá
ver quem tá chegando, porque a guaipecada tá toda oriçada e rosnando pros lados
da porteira.
Era o Xirú Chasqueiro, me trazendo notícias lá do
povoerio.
Grudadito no Xirú chega, prá via chasque, dar uma
mateada e puxar uma prosa o Jairo Reis, vaqueano dos bons uma barbaridade;
arrocinador do site Ronda dos Festivais e proseador - todos os sábados na Band
AM – com o programa “Do Litoral a Fronteira”.
Sentindo o cheiro da boia, também veio sorver um
amargo, um outro Jairo, o Velloso, lá da querida Bossoroca, e na trela me avisa
que a Associação Cultural da Bossoroca está desenvolvendo o projeto “Nossos Valores
– Poetas em Prosa e Verso” e que pretende reunir, só de autores da Terra
Colorada, poemas, poesias, crônicas e contos, que após seleção, farão parte de
um livro que será lançado no mês de aniversário do município, outubro.
Levantando polvadeira no repecho da picada, meio que
entropilhados, chegam mais três largados, todos cueras de primeira e amanunciadores
de sitios: O Fernando Araújo, do Juntando Rimas; o Valdemar Engroff, do sitio
do Gaúcho Taura e o ítalo Dorneles do Prosa Galponeira.
Os três se juntaram, por meio do chasque, para me
propor de fazer uma chibiada da Charla de Peão para o sitio de cada um. - Espia
só se eu não aceitei o contrabando?
Mas na hora, tchê! pois quem tem padrinho não morre
pagão.
Entonces, agora vocês também já sabem. Quando tiverem
dando uma funrungada na internet, me procurem por lá, que vou estar engarupado
no sitio de cada um deles.
Oigaletê! Lá vem outro maula abrindo cancha, com o
pinho nos tentos. É o Paulo Ricardo Costa, parceiro por demais e também
orelhador de sítio: o Entre Mates e Guitarras.
Pois não é que o bagual vem, também por meio de
chasque, se esbaldar no meu chimarrão, dar um beiçasso na minha canha com
butiá, encher a pança com a minha boia e ainda sai, dizendo por aí, que eu ando
escrevendo mais que china quando o amante se manda ala cria. E pior: ainda vem
me canchear, pedindo que eu mande prá ele um vale-costela.
Pois olha, tchê. Vou fazer
melhor: em vez de te mandar um vale-costela, te mando a receita do carreteiro
cuiudo que fiz, prá dez lasqueados, com aquele charque de costela, preparado na
Charla anterior. Que te parece?
Sapecando a Mangerona
Empeçando a lida do carreteiro encilhei um amargo
topetudo, dei de mão num copo de extrato de tomate, cheio de canha com butiá
curtido, duas cebolas grandes, dois dentes de alho, duas cucharradas de banha -
se tu sofre de colesterol alto troca por duas colheres de óleo de canola. Fica
uma porcaria, mas tu continuas vivo – um quilo de arroz, um litro e meio de
água de cacimba, um manojo de salsa, cebola verde e mangerona e um quilo de
charque de costela – esse não dá prá trocar.
Prá cantar a buena dicha, dei uma mateada e um
talagaço na canha, uns mangaços no tição, assoprei a fumaça prá quincha, armei
a trempe, pendurei a panela – preta e cascorrenta - no gancho, botei a banha prá
fritar e mandei mais um traguito da maleva.
Quando a banha tava no ponto enfiei as duas cebolas
- que eu já havia picado antes - e deixei dar uma dourada; juntei o alho,
socado com o cabo do mango e já encolherei o charque, que já tava de molho e
lavado de véspera, e que cortei em nacos, com a rabo de tatu. No embalo foi mais
um pialaço na canha.
Enquanto o charque refogava, sorvi outro amargo, me
benzi de novo e depois boliei o arroz e enriba dele derramei a água da cacimba.
Deixei levantar fervura, de vez em quando dava um beiçasso no copo e uma mexida
na boia - uma três ou quatro vezes – até que ficou tudo cozidito no más. Aí, peleguiei
a cachaça que sobrou no copo, levantei a tampa da preta, sapequei a mangerona,
a salsa e a cebola verde e soltei o grito prá peonada afloxar a chincha nas
virilhas.
Bueno vivente, se te agradou esta Charla e se tu
gostas de um chimarrão cevado a capricho, te aprochega que vamos ter uma boa
prosa. Quem sabe tu possas comer uma batata doce caramelada, pois a indiada já
pelou a coruja do carreteiro.
Entonces, enquanto espero o teu chasque, aproveito
que a panela esta vazia, esfrego nela meio tijolo prá dar uma areada e depois,
prá não deixar enferrujar, pego gordura da barrigueira da ovelha e vou
ensebando a preta veia.
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