quinta-feira, 3 de abril de 2014

ENSEBANDO A PRETA VÉIA!

Buenas Gauchada!
Tchê, Eleutério, dá uma mexida no pai de fogo, tira um pouco desse borralho, mete essa trama de angico nas brasas e encosta a cambona no tição prá aquenta a água, enquanto eu vou encilhando a chimarrão.
Depois tu vai lá na cozinha e, no armário – na prateleira bem de baixo – tu passa a mão naquela canha com butiá que eu guardei, há mais de quarenta dias. Acho que já tá no ponto e hoje eu vou usar um talagaço dela prá temperar a boia.
Ah! Não precisa abrir, viu? – Deixa que eu provo, tchê!
Bueno, como eu ando correndo mais que lagarto no lageado e meio enrolado prá dar conta da lida, tive que contratar um peão. Pois acertei a changa com o Eleutério, que vai me dar uma mão, aqui no galpão.
Noutra olada eu conto prá vocês quem é o tal Eleutério, tá bueno?
Agora vou dar uma espiada pras bandas do corredor, prá ver quem tá chegando, porque a guaipecada tá toda oriçada e rosnando pros lados da porteira.
Era o Xirú Chasqueiro, me trazendo notícias lá do povoerio.
Grudadito no Xirú chega, prá via chasque, dar uma mateada e puxar uma prosa o Jairo Reis, vaqueano dos bons uma barbaridade; arrocinador do site Ronda dos Festivais e proseador - todos os sábados na Band AM – com o programa “Do Litoral a Fronteira”.
Sentindo o cheiro da boia, também veio sorver um amargo, um outro Jairo, o Velloso, lá da querida Bossoroca, e na trela me avisa que a Associação Cultural da Bossoroca está desenvolvendo o projeto “Nossos Valores – Poetas em Prosa e Verso” e que pretende reunir, só de autores da Terra Colorada, poemas, poesias, crônicas e contos, que após seleção, farão parte de um livro que será lançado no mês de aniversário do município, outubro.
Levantando polvadeira no repecho da picada, meio que entropilhados, chegam mais três largados, todos cueras de primeira e amanunciadores de sitios: O Fernando Araújo, do Juntando Rimas; o Valdemar Engroff, do sitio do Gaúcho Taura e o ítalo Dorneles do Prosa Galponeira.
Os três se juntaram, por meio do chasque, para me propor de fazer uma chibiada da Charla de Peão para o sitio de cada um. - Espia só se eu não aceitei o contrabando?
Mas na hora, tchê! pois quem tem padrinho não morre pagão.
Entonces, agora vocês também já sabem. Quando tiverem dando uma funrungada na internet, me procurem por lá, que vou estar engarupado no sitio de cada um deles.
Oigaletê! Lá vem outro maula abrindo cancha, com o pinho nos tentos. É o Paulo Ricardo Costa, parceiro por demais e também orelhador de sítio: o Entre Mates e Guitarras.
Pois não é que o bagual vem, também por meio de chasque, se esbaldar no meu chimarrão, dar um beiçasso na minha canha com butiá, encher a pança com a minha boia e ainda sai, dizendo por aí, que eu ando escrevendo mais que china quando o amante se manda ala cria. E pior: ainda vem me canchear, pedindo que eu mande prá ele um vale-costela.
Pois olha, tchê. Vou fazer melhor: em vez de te mandar um vale-costela, te mando a receita do carreteiro cuiudo que fiz, prá dez lasqueados, com aquele charque de costela, preparado na Charla anterior. Que te parece?
Sapecando a Mangerona
Empeçando a lida do carreteiro encilhei um amargo topetudo, dei de mão num copo de extrato de tomate, cheio de canha com butiá curtido, duas cebolas grandes, dois dentes de alho, duas cucharradas de banha - se tu sofre de colesterol alto troca por duas colheres de óleo de canola. Fica uma porcaria, mas tu continuas vivo – um quilo de arroz, um litro e meio de água de cacimba, um manojo de salsa, cebola verde e mangerona e um quilo de charque de costela – esse não dá prá trocar.
Prá cantar a buena dicha, dei uma mateada e um talagaço na canha, uns mangaços no tição, assoprei a fumaça prá quincha, armei a trempe, pendurei a panela – preta e cascorrenta - no gancho, botei a banha prá fritar e mandei mais um traguito da maleva.
Quando a banha tava no ponto enfiei as duas cebolas - que eu já havia picado antes - e deixei dar uma dourada; juntei o alho, socado com o cabo do mango e já encolherei o charque, que já tava de molho e lavado de véspera, e que cortei em nacos, com a rabo de tatu. No embalo foi mais um pialaço na canha.
Enquanto o charque refogava, sorvi outro amargo, me benzi de novo e depois boliei o arroz e enriba dele derramei a água da cacimba. Deixei levantar fervura, de vez em quando dava um beiçasso no copo e uma mexida na boia - uma três ou quatro vezes – até que ficou tudo cozidito no más. Aí, peleguiei a cachaça que sobrou no copo, levantei a tampa da preta, sapequei a mangerona, a salsa e a cebola verde e soltei o grito prá peonada afloxar a chincha nas virilhas.
Bueno vivente, se te agradou esta Charla e se tu gostas de um chimarrão cevado a capricho, te aprochega que vamos ter uma boa prosa. Quem sabe tu possas comer uma batata doce caramelada, pois a indiada já pelou a coruja do carreteiro.

Entonces, enquanto espero o teu chasque, aproveito que a panela esta vazia, esfrego nela meio tijolo prá dar uma areada e depois, prá não deixar enferrujar, pego gordura da barrigueira da ovelha e vou ensebando a preta veia.
Fonte! Coluna Charla de Peão, por Juarez Cesar Fontana Miranda (poeta nativista), publicada no Jornal Regional do Comércio, Cidreira (RS), edição do dia 11 de março de 2014. Contatos com o colunista, mande um chasque para juarezmiranda@bol.com.br ou jornaljrcl@terra.com.br.

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