domingo, 14 de junho de 2015

Um Chasque Pro Meu Cambicho



Hoje, depois da lida campeira, já encilhando um mate na volta dum fogo de chão, olhei pros lados da porta do galpão e vi o sol se acrocando num repecho da coxilha enquanto a boieira vinha, a trote largo, soltando as rédeas na boca da noite.

De vereda, uma coplita milongueira se rebolcou no meu peito, foi amadrinhar o chiado da cambona cascurrenta e bailar com a picumã incendiada, num sarandeio abagualado que arrodiando a luz do candieiro, no meio da fumaça dum angico, subia no rumo da quincha do galpão.

Nessa olada, o ronco da cuia me pealou repontando uma tropilha de lembranças caborteiras, que aquerenciadas dentro d’alma teimavam em se desgarrar do meu entendimento e, a lo largo, faziam meu coração aporreado se enforquilhar numa reminiscência redomona que se mandava campo fora só prá retoçar no alpendre e se enfiar rancho adentro, até se aboletar contigo, juntito do fogão a lenha, onde de certo também mateias um chimarrão a preceito.

Uma tenência apinhada de soledades também se abancou comigo e cabresteou meu pensamento até o dia em que te vi, naquele fandango domingueiro. Eu nem te conhecia e tu não sabias da minha existência até bailarmos uma marca chamamecera: “...quando tu me quieras se irán los dolores,renacerán flores em mi corazón...”

Minhas pernas bambeavam mais que taquara verde num temporal; meu coração corcoveava num alçado descompasso, como querendo se desgarrar das maneias do meu peito, enquanto tua cara coloreava como a flor da corticeira na primavera - num suave tom carmesim.
Nossa pele respirava, coladita uma na outra e quando nossos corpos se acolheraram e nossas miradas se entreveraram eu, que só araganeava, resbalei no lajeado da cacimba dos teus olhos, me embebedei com a agua mansa do teu olhar e entonces, meu trotear pelo corredor da vida tomou outro norte.

E eu, que era quera largado e teatino, que até aquele dia nunca quisera alguém que me ajoujasse numa canga; que tinha um medo danado de dar uma rodada numa lomba embalastrada pelos saracoteios de algum cambicho, não tive cancha prá bolear a perna do pingo manhoso e candongueiro que sogueava meu coração passarinheiro prá assentar o facho no manacial dos afetos, que naquela feita já brotavam na sesmaria dos teus abraços.

Quando tua mão palmeou meus dedos descobri a vereda dos meus ventos, bombiei na tua mirada o meu destino e até hoje estamos enrabichados, um embuçalado no olhar do outro e, naturalmente, ainda continuamos carrapateados, batendo estribos no mesmo trote.
Bueno, quando enveredo pros lados do rancho, roseteio o pingo porque meu coração, encharcadito das vontades de estar nos teus costados, veiaqueia uma barbaridade, mas, como só falatório não encangalha tudo o que sinto por ti, vou levando, nos peçuelos, um manojo de flores do campo, prá te dizer gracias por existires e teres surgido na minha vida.

Te amo, prenda minha! Por isso, todo este teretetê

Fonte! Chasque Charla de Peão desta semana, de Juarez Cesar Fontana de Miranda, escritor e poeta nativista dos pagos de Cidreira (RS), publicado no Jornal Regional do Comércio.


Nenhum comentário:

Postar um comentário