terça-feira, 23 de setembro de 2014

Luigi Rosseti e seu legado



Certa vez, Ernesto Che Guevara, líder revolucionário cubano, foi acusado de ser um aventureiro. Em resposta, disse que sim, que o era. Mas que era um tipo diferente de aventureiro, daqueles que arriscavam a vida por suas verdades e convicções.

A revolta farroupilha foi pródiga em exemplos de homens e mulheres que arriscaram existências, patrimônio e até mesmo sua pequena cota de liberdade. Muitos tiveram o seu ciclo abreviado em função da colheita da indesejadas das  Gentes. Não faltou heroísmo ou as mazelas e veleidades inerentes à condição humana.

O período do decênio da chamada Revolução Farroupilha até hoje divide opiniões. Há os críticos de carteirinha, os neutros e os positivistas das academias, os amantes envergonhados, os apaixonados torcedores e muitos matizes nas avaliações sobre a insurgência. Sabe-se que é muito fácil concordar sobre o futuro que estabelecer um consenso sobre o passado. Muitos dos trabalhos têm sua validade, inclusive da historiadora Laura de Leão Dornelles, que recentemente teve aprovada uma tese de mestrado sobre o período, preenchendo uma lacuna com obra informativa, avaliativa, densa, instigante e, ao mesmo tempo, didática, clara e honesta em seus propósitos. 

Luigi Rossetti é o grande romântico, o grande Quixote da Revolução  Farroupilha. É homem de pensamento e de ação, capaz de descortinar oceanos para levar além-mar suas ideias. Ele embrenhou-se de corpo e alma em uma aventura que entendia decisiva para dar verossimilhança e aplicabilidade às teorias de Giuseppe Mazzini, como se elas devessem flores no novo mundo para atestar sua vitalidade e caráter universal. A vida de Rossetti é como um épico individual, uma epopeia na qual não faltam os eleitos, heróis e anti-heróis de um drama cujo final parece desafiar a posteridade.

          Há algo na trajetória de Rossetti que impede a avultá-lo ao longo do tempo. Seu desprendimento, seu envolvimento com uma causa que passou a lhe parecer cada vez menos viável, sua insistência em permanecer numa terra que já lhe exigia tarefas acima de suas forças é algo digno de nota. É preciso realizar o resgate da figura maiúscula e antológica de Luigi Rossetti. A par dos livros de história, cabe-lhe lugar na literatura, no cinema, no teatro, no afeto dos gaúchos e no coração de todos que amam a liberdade, dama que nunca se cansa de dar guarida ao sonho de emancipação dos povos. Seu sangue regou o solo rio-grandense e fecundou uma centelha que continua a impregnar a alma dos que sonham com uma pátria verdadeiramente livre.

Fonte! Chasque de Landro Oviedo, publicado no Jornal Megalupa nº 28 - agosto / setembro 2014.


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